18/10/09

O gosto pelas metáforas mortas



Que um poeta metaforize, ninguém estranha. É a sua a maneira  de dar a ver o mundo de uma forma inesperada. Que os políticos sejam dados à metafórica leva-nos, pelo menos, a franzir o sobrolho. Isto não apenas pela fraca qualidade das metáforas (quase sempre metáforas mortas) a que recorrem, mas porque com elas, contrariamente aos poetas, pretendem ocultar sempre qualquer coisa. Sócrates, perante a nova situação de governação em minoria, metaforizou: Já fui rico e já fui pobre. Prefiro ser rico. O que se oculta aqui? Não claramente o desejo de mandar sem entraves. Ele está bem expresso na sua preferência por ser rico. O que se oculta é aquilo que está por detrás do jogo «já fui rico e já fui pobre», cuja enunciação nos leva a pensar que isso são coisas que acontecem, fruto do acaso da vida. O que se oculta, então, foi a forma como Sócrates dilapidou a riqueza que tinha, como foi perdulário durante a última governação. Sócrates oculta que a sua actual pobreza se deve então a forma como agiu. Não foi o acaso nem um decreto arbitrário das potências infernais que o conduziram ao lugar onde está. Foi ele e as suas políticas.

Sem comentários: