10/10/09

O Malho, um santuário digno de peregrinação



De vez e quando fala-se por aqui, no averomundo, de algumas experiências gastronómicas. A maior parte delas, no entanto, não vêm parar aqui. Não porque sejam más, mas porque a minha memória é má. Esqueço-me. Mas há uma injustiça, uma grande injustiça, que hoje vou reparar. Numa aldeia improvável, com o nome ainda mais improvável de Malhou, há - contra todas as probabilidades - um belo restaurante. O nome também é improvável, o Malho. Restaurante e aldeia fazem parte do concelho de Alcanena, situados na estrada, não menos improvável, que liga esta vila à de Pernes, no concelho de Santarém.

Na peregrinação gastronómica desta sexta-feira, foi a este santuário que se foi orar, mais uma vez. O que deram os deuses em troca? Para além das entradas, talvez o menos interessante mas ainda assim bastante boas (calhou esta noite pataniscas de bacalhau, croquetes, fígado em vinagrete e cogumelos em azeite e alho), começou-se com uns belos filetes de corvina acompanhados com um arroz de grelos, estando os primeiros suculentíssimos, despojados da gordura dos fritos, e o arroz bem malandrinho, sápido, sem excesso de sabor a grelos, num equilíbrio entre o sabor do mar e o do campo. Depois, a viagem levou-nos a um folhado de perdiz selvagem, com o folhado crocante e recheado, para além da perdiz, com legumes, tudo numa perfeita harmonia, sem exageros retóricos nem manias nouvelle cuisine, como o exige a tradição que vem dos antigos gregos. Tudo isto acompanhado por tinto do Ribatejo (não se bebe branco por aqui e aposta-se muito nos tintos do Ribatejo), um Quinta da Alorna Reserva, o qual estava ao nível da refeição. Por fim, a sobremesa calhou ser, entre as várias hipóteses, um folhado de maçã acompanhado com gelado de nata, o qual não desmereceu da corvina ou da perdiz.

Nesta zona, refiro-me ao concelho de Torres Novas e aos que o rodeiam, como Alcanena, Tomar, Ourém, aqui incluindo Fátima, Entroncamento, Golegã, Abrantes, VN da Barquinha, Constância, Chamusca, até Alpiarça e Almeirim, não conhece este blogger melhor casa para comer do que o Malho, mesmo se se tem de penar uns minutos na estrada, ou arremedos dela, que liga Alcanena ao Malhou. Mesmo que o futuro Presidente da Câmara de Alcanena não mande arranjar a via, vale a pena o sacrifício. E quem gostar de peixe, como se gosta por aqui, no averomundo, o Malho é, apesar da lonjura do mar, um sítio a ter em conta, mais do que muitas zonas pesqueiras.

1 comentário:

maria correia disse...

Não será este fim-de-semana, encontro-me em profunda refelexão...entre Heidegger e Nietzsche...