13/10/09

Joseph Maistre - Da natureza das acções humanas


Enfim, há acções desculpáveis, louváveis mesmo segundo o ponto de vista humano, e que são infinitamente criminosas. Se, por exemplo, nos dizem: Abracei do boa-fé a Revolução francesa, por um amor puro da liberdade e da minha pátria. Acreditei, na minha alma e na minha consciência, que ela conduziria à reforma dos abusos e à felicidade pública. Nada temos a apontar. Mas o olho, para quem todos os corações são diáfanos, vê a fibra culpada, descobre numa discórdia ridícula, num pequeno melindre do orgulho, numa paixão baixa ou criminosa, o primeiro motivo destas resoluções que se quereriam mostrar ilustres aos olhos dos homens. E para ele a mentira da hipocrisia enxertada sobre a traição é mais um crime [Joseph Maistre, Considérations sur la France].
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Quem viveu politicamente os conturbados anos de 1974 a 1976, quantas vezes não deparou com situações destas? Quantas vezes não vi a inveja brilhar por detrás de certas opções e compromissos políticos? Quantas vezes não vi o despeito de um protagonista ao ser preterido, na economia da vida de um partido, por outro. Mesmo se eu olhar para o meu coração, tão imaturo à época, estou longe de lá encontrar apenas candura e idealismo altruísta. A participação nas revoluções políticas, bem como na vida política em geral, não é um exercício ascético de purificação. Quem está na política não visa a glória dos altares, mas o poder. Fundamentalmente o seu poder.

1 comentário:

maria correia disse...

Creio existir um «herói» das revoluções que, apesar de sanguinário--matava sem arrependimento quem se opunha ao que considerava o seu ideal--continua a usufruir da imagem de «candura e idealismo altruísta»: Che Guevara. Quando tinha 15 anos o poster famoso de Che lá estava, no meu quartinho de adolescente, na parede da janela e, ao olhá-lo, era como se olhasse a possibilidade infinita do Bem e da Liberdade. Por estranho que pareça, conheço jovens hoje em dia dia que têm a mesma imagem no quarto...e que o olham da mesma forma. E não tem a ver apenas com o facto de terem visto filme Diários de Che Guevara. Há algo mais, na apropriação que milhões de pessoas fizeram dessa imagem.