06/10/09

A gestão pelo terror


A demissão do número dois da France Telecom, Louis Pierre Wenes, após o suicídio de 24 colaboradores da empresa, em dezoito meses, é uma tentiva de ocultar a natureza das coisas. Os sindicatos acusam Wenes de ter introduzido a gestão pelo terror. O problema, porém, não reside em Wenes, mas na própria natureza da economia mundial. Ela é pensada em analogia com a lei da natureza, onde só sobrevive o mais forte. Este acontecimento revela também outra coisa. Os trabalhadores europeus estiveram, durante décadas, resguardados daquilo que acontecia noutros lados. Com a abertura das fronteiras, com a expansão do comércio mundial, com a concorrência levada ao extremo, os europeus não percebem o que lhes está a acontecer. Não apenas irão ficar cada vez mais pobres, mesmo que as economias nacionais fiquem mais ricas, como os regimes de trabalho serão cada vez mais duros e prolongados. O tempo das amplas classes médias europeias chegou ao fim. Sem o contraponto dos regimes comunistas e o medo que estes geravam, a essência da economia de mercado revela-se em toda a sua natureza. Dentro desta natureza está a consideração de que os homens não são mais do que mão-de-obra, isto é, mercadoria que se compra, vende e joga no lixo, quando não é precisa.

2 comentários:

José Ricardo Costa disse...

O cristianismo seria uma religião interessante para nos poder salvar. Defende precisamente o oposto do que está hoje a ser vendido às pessoas como ideologia, ou seja, o sucesso, a riqueza, a beleza, e esperteza. O problema é que, como religião, o seu lado moral está dependente do seu lado sobrenatural. Ainda há velhinhas que dão esmola ao pobre na medida em que fica bem no currículo celeste. Ora, a partir do momento, em que não há céu e um deus que regista em acta os nossos actos, a moral perde a sua base de sustentação. A velhinha, sabendo que já não vai para o céu, deixa de dar esmola ao pobrezinho pois sempre é 1 euro que dá jeito ao neto licenciado que está desempregado ou que trabalha 12 horas/dia para ganhar 500 euros. E o neto, claro, só pensa no seu sucesso que, quase sempre, implica o insucesso de muitos outros.

JR

maria correia disse...

O facto de os europeus não perceberem ainda o que lhes está a acontecer é ainda mais preocupante. O neoliberalismo foi-lhes impingido, vendido, dado, ensinado e cultivado como coisa natural, afastando de todos a ideia de que é possível agir e criar outra condição que não esta. O tsusnami financeiro é apenas mais um tsunami, força da natireza, vontade divina, seja o que for que é independente á vontade do homem e contra o qual nada se pode fazer. Mas pode e já um passo que se comece atomar consciência do que está a acontecer.