14/10/09

A essência da história




Que se suba até ao berço das nações, ou que se desça até aos nossos dias, que se examine os povos em todas as posições possíveis, desde o estado de barbárie até ao de civilização mais refinada, encontrar-se-á sempre a guerra. Por esta causa, que é a principal, e por todas aquelas que se lhe juntam, a efusão de sangue humano nunca está suspensa no universo: umas vezes ela é mais fraca sobre uma superfície maior, outras é mais forte numa superfície mais pequena, de maneira que ela é quase constante. Mas de tempos a tempos há acontecimentos extraordinários que a aumentam prodigiosamente, como as guerras púnicas, os triunviratos, as vitórias de César, a irrupção dos bárbaros, as cruzadas, as guerras religiosas, a sucessão de Espanha, a Revolução francesa, etc. Se houvesse uma tabela de massacres como há tabelas meteorológicas, quem sabe se não se descobriria, ao fim de alguns séculos de observação, a lei que os rege? [Joseph de Maistre, Considérations sur la France]

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Para além de mostrar a essência da História universal, a guerra e a efusão de sangue humano, Maistre faz, meio ironicamente, uma curiosa sugestão. Construir tabelas de observação dos massacres em analogia com as tabelas feitas na meteorologia. Esta aproximação a uma certa cientificidade da História, feita em finais do século XVIII, é muito mais interessante do que a de Marx, feita posteriormente. Marx e Engels estavam fascinados pelo desenvolvimento da Física e da Química, e sonhavam com uma legalidade histórica idêntica àquela que determina os acontecimentos naturais. A irónica proposta de Maistre abre a História não à necessidade, presente nas leis da Física clássica de Newton, mas à probabilidade e à previsão, como acontece com a meteorologia. O que faz dele, epistemologicamente,  um contemporâneo. Um mistério, este de um reaccionário ser mais moderno do que os revolucionários posteriores.

1 comentário:

maria correia disse...

era uma modernidade irónica, apenas. Os outros falavam a sério.