30/10/09

Enigmas




Mas mais enigmático é a representação de Baco. O que terá acontecido para que o impetuoso e vingativo deus Diónisos, ou a sua encarnação romana, Baco, que se transforma em leão para devorar gigantes, sejam muitas vezes representados por um jovem imberbe, muitas vezes de face andrógina, como neste quadro de Caravaggio? Por outro lado, o que terá levado o pai do barroco italiano a representar de forma tão serena, tão apolínea, o deus do excesso e da embriaguez? A serenidade e a calma representação de Baco são de tal maneira gritantes que, ao olhar o quadro, penso mais no Sócrates do Banquete, de Platão, do que no velho deus servido por Sátiros ou Faunos.

Mas ao representar Baco desta forma e ao dissimular-se no jarro de vinho, talvez Caravaggio quisesse sugerir que o verdadeiro Baco era ele, figura silvestre sempre disposta para o excesso e a desmedida, e não aquele jovem delicado que pega na taça de vinho de uma forma tão pouco viril.

Sem comentários: