19/10/09

Convicções



O meu problema não é a ausência de convicções. Eu tenho múltiplas e diferenciadas convicções, arrasto-as comigo, durmo com elas, passeio-as pela rua, chego a jantar com elas. O meu problema é diferente. Reside no simples facto de não acreditar em nenhuma das minhas convicções. Mas isso não é o pior. O pior é que eu não acredito mesmo em poder acreditar nessas convicções. Há um livro de Paul Ricoeur que me fascina desde que saiu, em 1995. Resultou de longas conversas com François Azouvi e Marc De Launay. O que me fascina não é o seu conteúdo, mas o título e aquilo que ele pressupõe. O livro chama-se A Crítica e a Convicção. O pressuposto é que o exercício crítico da Filosofia acaba por depurar as convicções, tornando o convicto mais convicto das suas convicções. O meu fascínio reside no simples facto de nenhuma convicção que eu possa ter resiste ao exercício da crítica. A crítica dissolve todas as convicções, todas as crenças, tudo aquilo que tomamos por verdadeiro. Por isso protesto pela dissolução niilista da verdade, protesto contra o relativismo. Mas não creio sequer no meu protesto, não passa de um gesto inútil.

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