16/10/09

Sem retorno



A senhora ministra da educação afirmou hoje que as escolas enfrentam “obstáculos e dificuldades” sem paralelo na história do sector para conseguirem responder ao alargamento da escolaridade obrigatória para os 12 anos. Enumerou algumas dificuldades, incensou, embora enviesadamente, a medida por si tomada e não esqueceu a banalidade. "Não podemos desistir de nenhum dos nossos jovens, nenhuma criança, adolescente ou jovem pode ser deixado para trás”. Tudo isto é muito bonito e comovedor. Pena é que a senhora tenha criado tão grandes obstáculos à disciplina nas escolas, que tenha desprezado o problema, tenha desautorizado os professores e acobertado os comportamentos menos adequados dos alunos. Há uma coisa, porém, que ninguém diz. Os alunos que querem trabalhar e aprender, mas cujas famílias não têm dinheiro para colégios privados, ou não os há onde vivem, quem os protege? Esta medida, por mais encantadora que seja, vai criar muitos problemas não às escolas, mas a esses alunos que precisam, para aprender, de um ambiente escolar saudável. É muito bonito dizer que há grandes desafios para as escolas enfrentarem, como se tudo estivesse na mão dos homens. Todos nós sabemos como isto vai acabar. Quem se interessa, já viu este filme no estrangeiro. Como em certos países ocidentais, a escola pública portuguesa vai definhar no caos, na indisciplina, na irrelevância. Em França, por exemplo, começaram agora a pagar a esse adoráveis adolescentes para ver se eles concordam em ir às aulas. A senhora ministra lançou a confusão, da qual não haverá retorno, e vai-se embora, esperemos.

Pena é que o senhor Mário Nogueira também não a acompanhe. O dirigente da Fenprof interpretou as palavras da ministra como “uma espécie de testamento político”. A ministra “conseguiu fazer um discurso completo de despedida sem ter uma referência elogiosa para os professores, o que também não é de espantar, foi assim todo o tempo, durante estes quatro anos”. Meus Deus, perante a anunciação do caos que vai acontecer em muitas escolas, a única coisa que lhe ocorre é que a senhora ministra, que nem mãe castigadora, não fez uma referência elogiosa aos professores. Parece que se sente abandonado. Se a ministra me elogiasse, eu desconfiaria imediatamente da qualidade do meu trabalho. Há coisas que só a psicanálise explica.

1 comentário:

Daniel disse...

O que vale é que é o último discurso.

Venha alguém menos presa à "má sociologia!.