11/10/09

Do exercício da arrogância



É preciso uma dose de arrogância enorme para alguém se candidatar a um cargo público com a suposição de ser capaz de resolver os problemas da comunidade ou dos outros. A candidatura, toda a candidatura, é um exercício paranóico de arrogância. Não basta a mera auto-estima, a confiança em si. Todo o poder, sem excepção, se funda na arrogância, exprime-se através da altivez e da sobranceria, por vezes, se conveniente, através do desprezo. Aquele que luta pela conquista ou manutenção do poder não é apenas audaz, é presunçoso e, muitas vezes ou sempre, insolente. A verdadeira virtude política não passa de um repositório de qualidades para a prática do mal. Não por acaso, o poder é o lugar do mal e o poder absoluto o do mal absoluto.

Pior, porém, do que o homem de acção é aquele que escreve sobre o devir do mundo e aquilo que deve ser esse mundo e a acção dos homens nele. Se a arrogância do político é, invariavelmente, enorme, a do intelectual – do universitário ao mero escrevinhador de blogues ou de crónicas de jornal – é sem medida. Que pretensão é aquela que habita a vontade de alguém para ter a veleidade de querer dizer como é a realidade? Que pretensão é a que reside num mero ser humano, limitado às suas faculdades de animal racional, para proclamar o que deve ser? Para esse devaneio irracional, para esse supino exercício de arrogância, foi aplicado, com propriedade, o termo estultícia. Mas esta não é apenas o sintoma de uma imbecilidade, mas o sinal de uma loucura que larva no coração de alguém.

Na verdade, se aqueles que lutam pelo poder deveriam estar todos no presídio, o lugar dos intelectuais deveria ser o hospício. São todos, de uma maneira ou de outra, incuráveis e irrecuperáveis.

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