04/10/09

O fim da aparência sagrada



Por causa desta notícia do Público, sobre os médicos cubanos a exercer em Portugal, e do nosso post O destino dos médicos, não é descabido citar Marx, o Marx do Manifesto do Partido Comunista (Obras Escolhidas de Marx e Engels, Tomo I, Edições Avante, pp. 109). Não há nada como voltar aos clássicos. Então oiçamo-lo...

«[A burguesia] Resolveu a dignidade pessoal no valor da troca, e no lugar de um sem-número de liberdades legítimas e estatuídas colocou a liberdade única, sem escrúpulos, do comércio. Numa palavra, no lugar da exploração encoberta com ilusões políticas e religiosas, colocou a exploração seca, directa, despudorada, aberta.

A burguesia despiu todas as actividades até aqui veneráveis e estimadas com piedosa reverência da sua aparência sagrada. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em trabalhadores assalariados pagos por ela.»

As coisas são o que são. Ler Marx não faz mal a ninguém, mesmo aos não marxistas, como é o caso do autor deste blogue. É sempre um choque com a realidade. E a realidade é sempre chocante, como se irá começar a perceber, entre as classes médias, em breve. Não deixa, porém, de ser simbólico que o processo de proletarização dos médicos em Portugal ganhe incremento - ele já começou há mais tempo - com pessoas vindas de um país cuja elite política é cultora de Marx.

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