Diplomas e dieta light
Este post do Zé Ricardo, como todos os outros, merece ser lido e não treslido. Não é uma apologia da escola do Estado Novo, mas um protesto contra a erosão educativa que a democracia fez crescer em Portugal. Mas ele lembrou-me de uma coisa. Hoje, dia do diploma, uma aluna minha do 12.º ano (foi minha aluna durante três anos), foi reconhecida como a melhor aluna do ensino secundário da minha escola. Acho que se vai candidatar a uma faculdade de arquitectura com média de 19,2 valores. Esta aluna, no ano lectivo que terminou, fez-me, como todos os seus colegas, três trabalhos de investigação sobre as obras que leccionámos. Esses trabalhos não foram copiados nem feitos por terceiro. Sei disso, porque os alunos tiveram de discutir publicamente os trabalhos comigo. O primeiro trabalho versava a teoria da reminiscência em Platão. A aluna trabalhou o Fédon e o Ménon (que leu em Inglês). O segundo trabalho versava sobre o problema da moral e da política em tensão com a questão da Paz Perpétua, de Kant. A aluna leu Locke, Carta sobre a Tolerância, e Kant, A Paz Perpétua. O terceiro trabalho foi uma reflexão sobre o conceito de civilização trágica, em Nietzsche. Todos estes trabalhos teriam, numa gradução em Filosofia, uma nota acima da média. Mas esta não foi a única aluna a trabalhar a um nível muito elevado. Tive, na mesma turma, outros alunos com desempenhos altíssimos. O problema está em que a cultura deste grupo de alunos é radicalmente estranha à generalidade dos outros e à escola que a democracia impôs. A possibilidade destes alunos descobrirem um apoio na escola reside apenas no simples facto de encontrarem à sua frente professores que valorizem o saber, a cultura, a ciência, as artes. Ora se olharmos para o perfil de professor que este governo implantou (um burocrata, cheio de estratégias vazias e pouco saber científico), percebemos que o dia do diploma apenas serve para ocultar a traição que está a ser feita aos alunos que querem levar a vida a sério. O bom professor da socióloga Rodrigues é pesadamente formado em burocracia, e do ponto de vista intelectual e cultural tem o estrito dever de seguir uma dieta absolutamente light.
1 comentário:
No final do 12º, eramos somente 5 a filosofia. O resto desistiu. Nunca percebi bem porquê...
Eu tinha boas notas e entrei em Direito. Estava convencida que era inteligente mas lá fiquei a "estupificar-me". Cada vez que questionava a doutrina perante assistentes recebia um
atestado de ignorância. E muito embora seja de louvar a humildade e a verdadeira inteligência dos regentes, cuja atitude nada tem a ver com a daqueles,o facto é tive de deixar de questionar para conseguir o canudo. Depois, "emburrecida" e deprimida conclui o estágio de advocacia e aprendi ao exerce-la que é preciso "aprender" tudo outra vez. Talvez por isso, as aulas de
filosofia sejam as unicas que eu não esqueci. Porque foram as unicas que ensinaram a tirar as palas e a olhar para outros lados além daquele que nos querem incutir.
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