10/09/09

Pensamento único

A SIC, num daqueles devaneios românticos que, em épocas eleitorais, chegam às redacções das televisões, achou por bem mostrar os chefes partidários naquilo a que chamam a vida para além da política. Não tinha visto nenhum desses programas, mas ontem, devido ao Hungria - Portugal, acabei por ir para a frente do televisoro e ver o programa referente a Francisco Louçã. A reportagem sobre a suposta vida privada de dirigentes públicos é entrecortada pelos comentários de dois supostos especialistas. No caso, o antigo jornalista Mário Bettencourt Resendes e um especialista de marketing ou de comunicação, um Duarte qualquer coisa (este qualquer coisa não é irónico, apenas não consigo recordar o nome do senhor). Os comentários de ontem roçaram o ridículo, pois a única coisa que transpareceu foi o desejo de ambos mostrarem bem que não votarão em Louçã, coisa aliás muito legítima, mas sem nexo na situação e na função em que se encontravam. Mas o patético deu-se quando o tal Duarte qualquer coisa não apenas fica espantado que o dr. Louçã tenha escrito tantos livros (será possível um esquerdista escrever tantos livros?), como ainda se atreve a perguntar se é plausível que, num mundo de economia global, os alunos da Universidade respeitem o professor Louçã, com as suas ideias. Pasmei! Como é possível achar que só há uma maneira de pensar a economia, como se ela fosse uma espécie de mecânica clássica, cujas leis eram tidas como universais? Como é possível não saber que, em muitas Universidades das mais reputados da Europa e dos EUA, existem grandes professores de Economia de extracção marxista, como o dr. Louçã? Pode-se não gostar de Francisco Louçã, e eu não gosto particularmente, mas dizer coisas destas revela o quê?

2 comentários:

maria correia disse...

Revela pura ignorância. Revela que grande parte da população foi condicionada a pensar apenas com um décimo do cérebro. Francisco Louçã, para além de ter escrito, de facto, muitíssimos e bons e úteis livros (coisa que mais nenhum dos candidatos o fez e que já por si releva muito dele, Louçã, e dos outros)o que, aliás, para mim, só abona a favor de Louçã,é um economista reputado e consideradíssimo lá fora (o que parece que também ninguém sabe).
Eu gosto de Francisco Louçã-além de ser o mais inteligente, o mais culto, o mais simples, contudo, de todos os candidatos, possui uma afabilidade e idealismo monacais que cativam.

zemanel disse...

O marxismo antes de ser uma corrente de intervenção política é uma corrente de pensamento fundamental do século XIX e que revolucionou as Ciências Sociais: da filosofia à historiografia, da Economia Política à Sociologia de que é considerado um dos fundadores.
Apenas a estreiteza - embora haja excepções - da universidade Portuguesa ( e sobretudo desde oas anos 80) tem desvalorizado os estudos críticos ao pensamento Marxista nas suas variadas dimensões.
Mas se isto salta à evidência com Marx, acontece o mesmo com muitos outros pensadores.
As elites em Portugal, as elites intelectuais, são de facto de uma pobrezaa atroz. Eis qualquer coisa que ajuda a exlicar o atraso do nosso país.
Por curiosidade deixe-me aenas apontar aqui o facto de a Universidade Católica Portuguesa ser a grande escola económica do ultr-liberalismo e das correntes monetaristas da Ciência Económica e ignora de forma olímpicamente estranha o pensamento económico da doutrina social da igreja