20/09/09

Irrelevância

Eu sei que foi uma infeliz conjugação de acasos e de boas vontades de amigos de há muitos anos, talvez nem tão boas quanto isso, de me inserir num círculo mais amplo de debate filosófico que me levaram a isto. Estou, devido a um compromisso assim arranjado, a escrever um artigo sobre o Protágoras, de Platão. Melhor, estou a escrever o artigo a partir dele, do mito que o sofista narra para justificar que a excelência política (aretē) pode e dever ser ensinada. A única coisa que eu constatei até agora, depois de ter o artigo esboçado e de o estar a redigir na forma final, é a irrelevância das minhas ideias sobre o assunto que me propus escrever. A única coisa para que servirá o artigo é para aumentar o lixo publicado. Não fora tão complacente, teria dito não. Não à participação no projecto (cheguei a dar uma aula na Faculdade de Ciências sobre o assunto), não à escrita do artigo, não à contribuição para o aumento da poluição cognitiva que infesta este malfadado planeta. Tão irrelevante como este artigo é aquilo que escrevo por aqui. A única coisa que, neste caso, não me condena em absoluto é que o que escrevo no blogue não é publicado em papel. Não contribuo para desflorestação do planeta. Valha-me isso.

1 comentário:

maria correia disse...

Não creio que o seu artigo vá contribuir para o aumento da poluição cognitiva,antes pelo contrário, talvez sirva para a diminuir, mas admiro a sua humildade que, a meu ver, tem também a ver com o conceito de arete, que vai muito mais longe do que a simples definição de excelência política. Existe também excelência no grau de humildade de que somos capazes.