08/09/09

A sombra do poder

Tem havido por parte de alguns comentadores com renome na praça uma óbvia incapacidade para perceber o fenómeno do crescimento político do PCP e do BE. Perante tal coisa, descrevem os cenários apocalíticos que poderão acontecer caso os votos de protesto contra Sócrates se dirijam para aquelas duas forças políticas. Mas há, nessa retórica, uma batota evidente. Escamoteia que o Muro de Berlim já caiu e a União Soviética se dissolveu, ilude o facto de estas duas forças políticas, para além da retórica para consumo interno, terem programas absolutamente social-democratas (o do PCP mais moderno, o do BE mais pós-moderno), esquece que nenhum desses partidos tem a possibilidade objectiva de nos separar da Europa. Mas estas ilusões não deixam perceber uma outra realidade. A realidade de que esses partidos estão mais próximos do poder do que nunca. Veja-se no Público a entrevista de Francisco Louçã e, por outro lado, o tom cordato e inteligente de Jerónimo Sousa nos debates. Ambos sabem muito bem que têm uma hipótese, talvez não excessivamente grande, de chegar ao poder, neste momento, e influenciar o rumo da política portuguesa. Mas também há outra coisa que é esquecida: o país está como está graças às políticas do PSD e do PS. Talvez isso comece a cansar os eleitores e a fazer germinar neles a necessidade de uma efectiva alternativa política. A entrevista de Ferro Rodrigues, dada há uns tempos, merece mais atenção do que se pensa. Também é possível pensar um PS sem as políticas socráticas.

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