29/09/09

A fragilidade de Cavaco

A voz grossa de Cavaco não passa de um sintoma, terrível sintoma, da sua fragilidade. Eu não votei em Cavaco, mas tinha nele uma pessoa fiável e digna na Presidência da República. A partir de hoje, depois da explicação pífia que deu sobre o imbróglio das putativas escutas, Cavaco não merece qualquer credibilidade. Não explicou a razão por que Lima se encontrou com o jornalista do Público, não explicou o seu insuportável silêncio. Mais, em vez de ser voz apaziaguadora, Cavaco, com a sua declaração, parece querer incendiar o país. Nunca Portugal, desde que os presidentes são eleitos pós-25 de Abril, teve alguém tão incapaz na sua presidência. É pena. É pena que o essencial não tenha sido esclarecido. Como é notório eu não sou propriamente um adepto do engenheiro Sócrates. O Presidente pode ter dividido e incendiado o país, para além daquilo que é tolerável. Veremos. Veremos como se vão comportar os visados.

1 comentário:

maria correia disse...

Vive-se actualmente um clima pseudo político, com a ajuda da comunicação social, em que tudo acontece «alegadamente»...frases como «terá dito» (isto chama-se um futuro de especulação), ou «supostamente» ou ainda «teria estado», «provavelmente foi»,«talvez haja (vulnerabilidades, pois claro)», «alegadas afirmações», «teria, afinal...», «terá afirmado que alguém o/a informou» e uma sequência enorme de construções em que o futuro composto é usado e abusado: terá ido, terá falado, terá afirmado, terá estado, terá feito terá...escutado fazem parte do vocabulário do dia a dia de políticos, jornalistas, locutores, entrevistadores, apresentadores, e «alegados» responsáveis pelas instituições políticas e não só do nosso país. Não sei quantas vezes já ouvi o advérbio «alegadamente». Mas então as «coisas» já não acontecem, já não se dizem, ja não informam? Ontem, ao ouvir o discurso do presidente da república fiquei, sinceramente, sem perceber o que foi dito realmente. Só me pareceu que «supostamente» o presidente acusava «vagamente» o PS..mas terei percebido bem? Mas afinal, havia escutas ou não havia escutas? E que «vulnerabilidades» são essas que afectam o sistema informático da presidência? No fundo, o discurso esclarecedor limitou-se mais uma vez a um «disse que disse e eu não disse que tinha dito e que ninguém diz por mim porque eu tudo direi, mas, no fundo, não digo nada.»
Já agora, e apesar de não simpatizar com o PS de José Sócrates, confesso que me espanta tanto o Presidente da República como o PS virem tentar dizer que «supostamente» tudo isto serviu para «ajudar» o PS. Como? Então um partido, e do governo ainda por cima, é suposta e alegadamente acusado de «escutar» o presidente e vai ganhar com isso? Tenho alegadas saudades do tempo em que não alegadamente, as coisas se diziam de forma mais clara, sem advérbios, ainda por cima estes, que, no fundo, são meras bengalas para lançar fogos fátuos e intriguinhas que a ninguém servem. Além disso, seria necessário ao presidente da república mostrar-se tão agastado? A sua posição não lhe impõe uma atitude mais fleugmática? Mais elegante, enfim...afinal, a fleugma de Cavaco Silva era apenas uma «alegada» fleugma.