19/09/09

Quem semeou ventos...

Eis uma proeza de Sócrates e de Lurdes Rodrigues. Conseguiram uma manifestação não apenas contra o governo mas contra o próprio Partido Socialista. Partidarizaram, pela negativa, toda uma classe profissional. Professores calculam, distrito a distrito, qual o voto útil contra o PS. Esta manifestação, como esse cálculo, nunca deveriam acontecer, não porque não façam sentido - fazem-no até demais - mas porque as políticas educativas que os geraram, e geraram o ódio de um sector profissional ao partido que teria mais apoio dentro desse sector, nunca deveriam ter sido sequer pensadas, quanto mais postas em execução. Diferentemente de muitas outras manifestações, os 1500 ou 2000 professores que se manifestaram hoje em Lisboa representam o pensamento de mais de 95% do professorado. Enquanto professor, desejo um tempo em que cada um de nós possa tornar a optar segundo uma óptica não corporativa, optar segundo a sua visão da sociedade e do bem comum, onde a educação seja apenas uma vertente do voto. Mas os portugueses deverão perceber aquilo que foi feito. Os professores foram escolhidos, pelo governo do Partido Socialista, para serem o bode expiatório, cujo sacrifício deveria redimir a pátria, no pequeno pensamento dos conselheiros estratégicos do governo. E enquanto a opinião pública parecia dar cobertura aos desmandos do governo na educação, não faltou voz forte, punho de aço, humilhação das pessoas, não faltou um clima de desprezo e de ódio ao professor do ensino público. A proletarização dos professores (um dos objectivos do governo), a reforma "compulsiva" de muitos dos mais velhos (outro dos objectivos da agenda "oculta"), a criação de uma estrutura burocrática pesada dentro das escolas para justificar a divisão da profissão em duas, as medidas de irresponsabilização dos estudantes, a entrega não muito subrepetícia das escolas à voragem dos políticos locais são motivos mais do que suficientes para os professores terem um objectivo negativo no acto eleitoral: fazer perder o maior número de votos possível ao partido do governo. Isto nunca deveria acontecer. Mas aquelas políticas, cujo fim último é fazer da escola pública um serviço de terceira categoria, muito menos. Votar contra o PS tornou-se não apenas um imperativo que visa defender os professores, mas também e fundamentalmente um imperativo que visa defender aqueles que justificam a existência de professores, os alunos. Quem semeou ventos...

1 comentário:

Anónimo disse...

Ler, considerar e votar em consciência colectiva:

http://primeirofax.wordpress.com/2009/09/13/voto-util-contra-o-ps-de-socrates-actualizacao-13-de-setembro/