27/09/08

Experiências de invisibilidade

Quando escrevia o post anterior, lembrei-me de uma outra ocorrência passada, há meses, num daqueles restaurantes de referência, garfo de ouro do Expresso, que se encontram relativamente perto de Torres Novas. Chegámos e entrámos para uma sala onde havia apenas outro casal. Fomos sentados numa mesa suficientemente longe desses comensais. Passado pouco tempo, ficámos sozinhos. Até que chega um novo casal, gente cinquentona como nós, acompanhado pela mãe dele. Falavam alto e nasalavam as palavras, marido e mulher por pouco não se tratavam por tio e tia. Evidenciavam uma boa instalação na vida e a frequência dos sítios certos. A mãe dele olhava para a nora com a habitual condescendência que se tem quando se acredita que os filhos não souberam escolher a mulher. O empregado teve a infeliz ideia de dizer “podem escolher, estejam à vontade” (é aqui que eu começo a desconfiar dos garfos de ouro). Ora um português nunca deve ser deixado à vontade. Entre as múltiplas mesas existentes na sala vazia, a única que interessou a estes extraordinários portugueses deixados à vontade foi a contígua à nossa, ali mesmo a uns escassos 50 a 70 cm do meu prato. A esta primeira amabilidade que me fez acreditar possuir o poder da invisibilidade, acrescentaram, perante o silêncio constrangido em que tomámos a refeição, ainda as suas ruidosas opiniões sobre isto e aquilo e até sobre uma pessoa que, por acaso, conhecíamos muito bem de outras paragens. Por vezes, penso que sofremos de um défice de qualquer coisa, ou de um superavit de estupidez.

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