07/09/08

Aquele país não é para aristocratas


Sempre me pareceu precipitado o pré-anúncio, por essa Europa fora, da futura vitória de Obama nas presidencias americanas, bem como a denominada obamania. As sondagens parecem inverter-se e começam a sorrir a McCain. As razões disso são muito menos a cor da pele ou a putativa pouca preparação do Obama para a política externa, como pretendem os republicanos. A razão é aquela que Vasco Pulido Valente assinalou ontem no Público: Obama é um aristocrata, um espírito superior que frequentou as melhors universidades do país. Isso, na política americana, está longe de ser sempre uma virtude. As pessoas esquecem a realidade americana.

A América, aquela que a esquerda europeia abomina, foi feita pelos proletários e candidatos a proletários que, não tendo o que comer na velha Europa, para lá emigraram e realizaram o seu sonho (o sonho do proletário é enriquecer) ou ficaram esmagados pela transformação do sonho em pesadelo (veja-se toda a mitologia em torno dos loosers). A América é a vitória cabal do quarto estado e o American Dream e a democracia americana são a realização pura e dura da ditadura do proletariado. O gosto americano, que para nós é símbolo de pirosice, é a expressão cultural do quarto estado. Faz parte também dessa cultura o fundamentalismo evangélico ou o gosto pela violência. O quarto estado é composto por gente dura, para quem, mesmo se ricos há duas ou três gerações, a vida dos seus tetra-avós não foi um passeio na Terra.

Não há nada que o espírito do quarto estado, quando ascende à condição burguesa, mais abomine do que um espírito aristocrático. Obama pode perder e pode perder pelas piores razões: por ser demasiado educado e possuir uma preparação superior. Aquele país não é para aristocratas.