21/09/08

O delírio da senhora ministra

Vale a pena ler aqui as palavras de reacção de Maria de Lurdes Rodrigues sobre o crescimento do mercado das explicações. Estes dados doeram fundo na alma da senhora ministra, ao desmontarem as suas elucubrações sobre aprendizagens feitas na escola que inventou. Como a realidade não se adequa com as suas grandes e generosas ideias, trata de exorcizar essa mesma realidade classificando-a: a dependência de explicações seria uma situação de «Terceiro Mundo». Foi para fazer face ao recurso às explicações que ela se lembrou do conceito de escola a tempo inteiro, onde as crianças são massacradas com inutilidades. Mas a senhora nem sabe o que é uma escola, nem, apesar de socióloga ou por causa de o ser, faz a mínima ideia de como funciona a sociedade. Fico espantado – isto é retórica – que uma pessoa doutorada acredite que as classes médias achem que a «escola a tempo inteiro» prepare os filhos para as universidades. Como noutros países do primeiro mundo onde foram tomadas medidas idênticas àquelas que a senhora por cá tomou, as classes médias estão a tirar os filhos da escola pública e o mercado de explicações a crescer exponencialmente. Um conselho à senhora ministra da Educação: faça uma lei para proibir os estudos sobre educação que não sejam pensados no ISCTE, e faça outra para proibir a realidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Há algum tempo já que sigo este blogue e encontro nele, com basta frequência temas bem tratados, por bem meditados, apesar de um excesso de pessimismo que um pouco se confunde com o niilismo de que acusa muitos. Esta mediana (por minha incapacidade, confesso) atenção com que o tenho seguido não é, porém, insuficiente para que lhe não detecte que os ódios de estimação facilmente lhe obnubilam a objectividade: Sócrates, a ministra da educação e a sociologia. Quanto aos dois primeiros desta "demoníaca" trindade, é fácil perceber a razão, sendo o autor do blogue professor. Quanto à terceira entidade que a completa, não sei qual a razão, nem o pretendo, somente constato que a esmagadora maioria das invectivas que lhe dirige com espantosa facilidade se podem assacar igualmente à sua área de formação. De torcionários e "desfazedores" e/ou "refazedores" do real está o mundo cheio (e que não pense que estou a querer alguma analogia com o inferno, por via de dito popular porque o não estou, deixo todo o pessimismo para si), só não vejo é apontá-los na filosofia com não digo igual mas alguma veemência, a começar por a quem dá honras de citação e que, me parece, quase venera. Mas com não tenho parte na contenda...
Para não alongar o discurso e não o incomodar em demasia direi o que me fez comentar: o ter notado, desta vez esse transvio é extremado. Se a ministra "nem sabe o que é uma escola" não o sei e talvez eu também o não saiba, afinal não tenho o privilégio de a palpar por dentro como o fará vc. Tenho, contudo amizades entre professores que me relatam as horas de apoio vazias de alunos porque os pais preferem pagar por explicações sem mais garantia de qualidade porque põem os filhos em mais um espaço que toma conta deles por algumas horas enquanto não é tempo de o encaminhar para uma qualquer outra actividade, até a actividade final, o ir para a cama, sem uma dúzia de palavras trocadas com os pais porque amanhã é outro dia e há que repetir todo o ramerrão. Não me consta que os filhos da classe média fiquem mais bem preparados por ter explicações, elas vêm é, as mais das vezes, tentar suprir o vazio relacional no seio familiar.
Falemos em países do primeiro mundo, onde tudo cresce exponencialmente, até as explicações. É sempre bom dar exemplos lá de fora, da civilização, melhor ainda é quando se não deixa tais afirmações por tão vagos predicados: países do primeiro mundo. Quais, por favor? Estará a falar, p. ex., na Holanda, na Áustria, na Suíça, nos países nórdicos. Suponho que destes se esqueceu, como se deve ter esquecido de tigres e dragões asiáticos, com a Coreia à cabeça. Presumo, uma vez mais, que estaria a pensar nos que nos andaram a querer fazer crer em todas as bendições do liberalismo, esses líderes da civilização. Aí sim, encontro quem caiba nesse primeiro mundo iluminado, que exautora a escola pública para mais expor as ditas virtudes do mercado e da sua famigerada auto-regulação.
Enfim, não o quero maçar mais, espero que continue por muitos e bons tempos a dar-nos a conhecer a sua visão do mundo.
Uma nota final: não tenho nada a ver com o ISCTE e, ainda menos, se tal for possível com a ministra da educação, felizmente.
J.B.Lemos