18/09/08

O que todos sabemos sobre o enigma Jerónimo de Sousa

Constança Cunha e Sá, no Público de hoje, medita sobre o fenómeno da popularidade de Jerónimo de Sousa (ver aqui). Fala das reformas, do esvaziamento dos direitos adquiridos e, fundamentalmente, da hipocrisia do sistema para com os desfavorecidos, escorada no autismo dos governantes e nos êxtases dos sectores liberais. Tudo isto é verdade, mas a popularidade da chamada afectividade de Jerónimo de Sousa deve-se, também, a uma outra coisa que não se diz: ninguém leva a sério o dirigente comunista. Se se olhar para os partidos portugueses podemos conceber que todos os seus chefes poderiam ser primeiros-ministros. Sócrates porque o é, faz jogging pelas capitais do mundo inteiro e veste-se bastante bem. Ferreira Leite porque é economista, uma avó dedicada, uma pessoa séria e pouco palavrosa. Paulo Portas porque leu algumas biografias do Churchill, veste fatos às riscas e parece gostar de Jaguares. Até Francisco Louçã é um primeiro-ministro credível, pois é professor de Economia e, apesar da traquinice de não usar gravata, todos descortinamos ali a seriedade de um domicano medieval. Mas alguém vê em Jerónimo de Sousa um futuro primeiro-ministro? Claro que não, nem mesmo os seus camaradas que o elegeram para secretário-geral. Nele apenas se vê aquilo que ele é, um operário metalúrgico que gosta de dançar e do Benfica, segundo parece. Nas actuais circunstâncias, as suas ideias – para além do círculo dos fiéis – não fazem estremecer ninguém, nem de amor nem de ódio. É este facto que permite a popularidade de Jerónimo de Sousa. Já ouvi gente de direita dizer que vai votar nele. A ideia é assustar um bocadinho o sistema e a maltosa que tomou conta dos grandes partidos governamentais. Fosse Jerónimo de Sousa uma personagem idêntica a Álvaro Cunhal, com a solidez teórica e a cosmovisão deste, e a simpatia por ele seria bastante menor e ninguém se lembraria de assustar quem quer que fosse com votos vermelhos. É que, nesse caso, ele poderia mesmo ser primeiro-ministro.

1 comentário:

maria correia disse...

Rir, por vezes, é mesmo o melhor remédio..obrigada pela gargalhada que me provocou...o mais cómico é Paulo Portas, de fato às riscas e jaguar, cumprimentando, por exemplo, Hugo Chávez...é pena que figuras de esquerda, ortodoxas ou não, com o carisma de Álvaro Cunhal se tenham elevado ao Olimpo dos grandes cosmovisionadores...