16/09/08

W. G. Sebald - Campo Santo


Nos dias que passaram em Paris, os dois amigos [Max Brod e Franz Kafka], um tanto abatidos, visitaram diversos lugares e tentaram a sua sorte ao amor num bordel «racionalmente mobilado» com «campainha eléctrica», onde tudo era feito com tal despacho que os clientes se viam de novo na rua quase sem darem por isso. «Ali», escreve Kafka, «é difícil ver as raparigas bem de perto […] Na realidade, só tenho na memória a que estava sentada mesmo na minha frente. Tinha frinchas entre os dentes, esticava-se toda para cima e, segurando o vestido amarfanhado sobre as vergonhas, fechava com força tanto os olhos grandes como a boca grande. O cabelo louro estava sujo. Era magra. Medo de me esquecer de tirar o chapéu. É preciso agarrar bem a aba com a mão». Até o bordel tem que ser comme il faut. «Solitário, longo, sem sentido, o caminho para casa», conclui a nota.

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