Vícios privados
Dantes gostava de ir às livraras e às discotecas ver o que havia e comprar alguma coisa que me interessasse e não excedesse por aí além o orçamento previsto. Era um prazer público. Mas dois acontecimentos concomitantes vieram diminuir esse gosto. Por um lado, o desenvolvimento do comércio electrónico, nomeadamente, o surgimento dessa verdadeira instituição de utilidade para o público que dá pelo nome de Amazon. Por outro, a falência da memória pessoal. Muitas vezes estou numa livraria ou numa discoteca e pergunto-me se já terei comprado aquele livro ou CD. Sinto-me perdido também por outro motivo. Quero ver se há livros novos de um autor e quando chego à livraria não consigo recordar-me qual é o nome dele, apesar de saber as obras que li dele. É um momento de angústia, não saber onde procurar o que quero. Assim tenho vindo a substituir a compra pública pela privada.
Por exemplo, no outro dia fiz anos e decidi, depois de consultar as estantes, oferecer-me, nesse mesmo dia, um presente. A Amazon francesa estava a vender a 4 euros CD’s de jazz, fora o IVA e o transporte. Comprei 20, entre eles oito de Miles Davis. Quando chegaram, por acaso, fui comparar os preços dos CD’s de Davis, adicionando IVA e transporte, com os praticados por cá pela FNAC. Descobri que os tinha comprado a metade do preço. Eu sei que isto mata os espaços nacionais e locais, mata também a ida aos lugares públicos, o encontro com os outros e transforma o mundo numa virtualidade. É tudo verdade, mas também é verdade que a vinda do correio se tornou muito mais emocionante. Abrir a caixa do correio e encontrar lá o CD ou o livro comprado há dias é uma espécie de rememoração dos tempos em que os apaixonados trocavam cartas de amor em vez de sms’s. Não há nada como os vícios privados.
Por exemplo, no outro dia fiz anos e decidi, depois de consultar as estantes, oferecer-me, nesse mesmo dia, um presente. A Amazon francesa estava a vender a 4 euros CD’s de jazz, fora o IVA e o transporte. Comprei 20, entre eles oito de Miles Davis. Quando chegaram, por acaso, fui comparar os preços dos CD’s de Davis, adicionando IVA e transporte, com os praticados por cá pela FNAC. Descobri que os tinha comprado a metade do preço. Eu sei que isto mata os espaços nacionais e locais, mata também a ida aos lugares públicos, o encontro com os outros e transforma o mundo numa virtualidade. É tudo verdade, mas também é verdade que a vinda do correio se tornou muito mais emocionante. Abrir a caixa do correio e encontrar lá o CD ou o livro comprado há dias é uma espécie de rememoração dos tempos em que os apaixonados trocavam cartas de amor em vez de sms’s. Não há nada como os vícios privados.
1 comentário:
Concordo...até me lembrei de um~lied da Winterreise (Shubert)que se chama: Die Post, cantado maravilhosamente por Fisher Diskau e que fala da alegria de quem espera com o coração a bater pela carta da amada...
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