04/07/09

O estudo da SEDES

O estudo efectuado pela SEDES sobre o actual estado do regime político tem aspectos, ligados à questão do poder, bem desagradáveis. Tanto o poder judicial como o poder político recebem uma avaliação bastante negativa. Esta avaliação confirma apenas a percepção comum de um real e efectivo afastamento entre as elites político-judiciais e o povo que elas, putativamente, deveriam representar e defender.

Desde o final dos anos 80 que os portugueses são dos europeus mais insatisfeitos com a sua democracia. Os anos decorridos desde então não melhoraram, pelo contrário, a percepção que se tem do regime. Sobre isto há duas maneiras de interpretar a causa dessa insatisfação. Poder-se-á sempre invocar a tradicional estranheza nacional relativamente aos valores da liberdade, mas essa será uma má explicação. A segunda forma é olhar para o afastamento entre elites e povo. É esta a perspectiva confirmada pelo estudo do SEDES. A justiça é sentida como profundamente classista, e o poder político como defesa e promoção dos interesses privados dos próprios políticos. Esta percepção, caso não estivéssemos na União Europeia, já teria motivado e legitimado tentações militares, o que mostra uma outra vertente do problema. A União Europeia tem-se tornado uma almofada protectora da indigência da classe política nacional.

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