A irritação socialista com Cavaco
Segundo o Público, os socialistas andam irritados com Cavaco e as críticas começam a ser públicas. Quem tem paciência já para esta farsa? Cavaco não foi eleito com o beneplácito do excelso engenheiro e a conivência do dr. Mário Soares? Quem anda na política, aos anos que andam Sócrates e Soares, sabe muito que a candidatura de Mário Soares só tinha uma finalidade objectiva: permitir a eleição de Cavaco Silva e a consequente não eleição de Manuel Alegre. Nem Soares nem qualquer dirigente importante do PS alguma vez acreditou na possibilidade de reeleição do antigo presidente.
Nos cálculos da elite dirigente dos socialistas acreditava-se ao mesmo tempo em várias coisas estúpidas. Em primeiro lugar, acreditava-se que Cavaco seria mais dócil com o "espírito reformista", que atafulhava as cabeças "pensantes" do PS, do que Manuel Alegre. Em segundo lugar, acreditava-se que o desconchavo do PSD seria permanente. Em terceiro lugar, acreditava-se que o tempo de Cavaco tinha passado e que a subtileza da máquina de propaganda socialista seria o suficiente para impor respeito a um Cavaco tido por pouco mais do que um labrego.
Mas Cavaco, desde que saiu de S. Bento, tem uma agenda própria e tem uma virtude política que é de sublinhar: a paciência. Esperou pacientemente que passassem os 10 anos de Jorge Sampaio. Esperou, depois de eleito, que a arrogância da tropa socratista fosse tornando Sócrates em personagem detestável. Esperou, com não menos paciência, que o PSD arrumasse a casa segundo os seus, de Cavaco, desígnios. Agora, o tempo e o espírito do momento jogam a seu favor. Por que razão se haveria de calar? Soares calou-se quando Cavaco era primeiro-ministro?
Não sei o que é mais de espantar, se a irritação presente com o Presidente, se a estupidez originária que levou ao sub-reptício apoio da direcção do PS a Cavaco. Era claro que Cavaco não ia para Belém brincar às casinhas. Ele queria ordenar o país segundo a sua visão, sem ter de aturar a máquina partidária do PSD, que o aborrece de morte. Por outro lado, Cavaco queria e quer ajustar as contas consigo mesmo. Ele sabe que os seus mandatos como primeiro-ministro, independentemente do foguetório e do incenso, foram muito piores do que por aí se diz. Ele sabe que é responsável por muito do pior que aconteceu em Portugal depois da entrada na CEE. Seja como for, Sócrates está à beira de descobrir que é um menino do coro deslumbrado com os seus fatos armani e os seus electronic toys ao pé do velho Cavaco Silva.
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