23/07/09

Estou a auto-avaliar-me

Ando afastado de tudo. Do blogue, da poesia, da Filosofia. Há dias que não faço outra coisa que não seja auto-avaliar-me enquanto professor do ensino secundário. Comecei por preencher uma ficha de auto-avaliação com 12 itens. A coisa a princípio parecia fácil. Mas mal fui ver as questões fiquei perplexo. A maioria dos itens dados, pelo Ministério da Educação, para eu me auto-avaliar começa por esta enigmática expressão: "Como avalia...". Eu dou exemplos: "1. Como avalia o cumprimento do serviço lectivo e dos seus objectivos individuais estabelecidos neste âmbito?"; "2. Como avalia o seu trabalho no âmbito da preparação e organização das actividades? Identifique sumariamente os recursos e instrumentos utilizados e respectivos objectivos."; "4. Como avalia a relação pedagógica que estabeleceu com os seus alunos e o conhecimento que tem de cada um deles?". Fiquemos por aqui para não maçar o leitor.

A minha perplexidade reside no facto de não saber o que responder. À questão 1, o que devo responder? Se eu responder que avalio sentado, não estarei a responder à pergunta que me está sendo feita? E à questão 4, se eu me puser a explicar o método que uso para avaliar a relação pedagógica que estabeleci com os alunos, não estarei a dar uma óptima resposta à pergunta que me foi feita? E a ficha de avaliação segue por aí abaixo sempre nesta ambiguidade.

Eu acho, mas isso sou eu a achar, que o Ministério da Educação queria fazer outras perguntas. Vejamos, talvez estas: "1. Que avaliação faz do cumprimento do serviço lectivo e dos seus objectivos individuais estabelecidos neste âmbito?"; "2. Que avaliação faz do seu trabalho no âmbito da preparação e organização das actividades? Identifique sumariamente os recursos e instrumentos utilizados e respectivos objectivos."; "4. Que avaliação faz da relação pedagógica que estabeleceu com os seus alunos e o conhecimento que tem de cada um deles?"

Não seria mais curial este tipo de questão? Não teria o ME a obrigação de estar atento a estes pormenores? Ou tudo isto é uma brincadeira de carnaval, e qualquer coisa serve?

Ultrapassado o dilema e tendo respondido àquilo que suspeito que o Ministério da Educação gostaria de perguntar, entrei na fase mais dolorosa. Agora estou a compilar as provas empíricas daquilo que eu afirmo. Meu Deus, o tempo que eu perco com isto. Só mentes tortuosas se poderiam lembrar de uma coisa destas. Imagino uma empresa em que os seus funcionários se tenham de auto-avaliar desta forma. Já teria fechado as portas. Mas deve ser isto que é moderno, e tudo o que é moderno é bom, mesmo que o modelo só sirva para o Chile e para os indigentes dos professores portugueses. Os professores que não se esqueçam de votar no eng.º Sócrates e na socióloga Rodrigues.

1 comentário:

maria correia disse...

A má formulação da pergunta prende-se com a questão sobre a forma como os alunos no 9º anos são «encaminhados»...afirmo que a grande parte das pessoas que saiem dos cursos de Línguas ou Humanidades não sabe escrever num português escorreito. Por duas razões: sofreu, a palavra é essa mesma, sofreu um ensino deificiente e facilitista desde o início e, no fundo, nunca gostou de ler. Leu «resumos» das obras recomendadas...é no que dá. Além disso, essa auto-avaliação só dever servir para o auto-avaliado perca tempo que seria útil noutras coisas..e também para quem fizer a «análise» também perder tempo. Em suma, não serve para nada.