Metamorfoses L
Alfred Schnittke – Piano Concerto no. 2
imensas eram as ruas desabitadas
tinham cheiro a clorofórmio
e das janelas pendiam sacos de plástico
farrapos de roupas a ondular ao vento
molas de plástico a que o sol comera a cor
se alguém as percorria ao entardecer
ou ousava ali parar na noite escura
elas uivavam como se tivessem vida
ou uma memória animal as habitasse
e lhes desse voz na praia do silêncio
nas calçadas crescem ervas esquivas
símbolos de uma vida ressequida
– sussurram se lhes bate o vento –
são bandeiras de uma pátria vazia
onde há muito secaram os últimos rios
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