13/06/08

Passado, passaste

Passado, passaste
tão rápido, sombra
delida e impressa
na boca feroz
do tempo. Ó ruína
que fazes de mim
fantasma dolente
a vogar por pedras
e casas despidas
de gente. Caminho
entre arcos, caminho
por ruas despidas,
sem vida, e aspiro
as nuvens de cinza
que se abrem além.
Esqueço então
os nomes, as horas,
aquilo que amei,
esqueço-me a mim
e aquilo que fui.
Apenas recordo,
se o faço então,
as horas perdidas
nas águas serenas
a olhar o teu rosto
que, preso no meu,
da vida se afasta
e acorda feliz
no porto de júbilo
onde sopra gélido
o vento da morte.

Jorge Carreira Maia, Pentassílabos, 2008

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