Mário Soares - O regresso da política
Falta à União cidadania europeia. Os europeus, de todos os países membros, têm poucos meios para influenciar as decisões dos dirigentes e mesmo para as compreender. Estão a leste do que se congemina em Bruxelas. Ora é isso que leva ao desconhecimento do que está em jogo - de cada vez que são consultados - e à indiferença.
Alheiam-se dos problemas. O que não quer dizer que estejam dispostos a consentir que os seus Estados abandonem a construção europeia ou saiam da Comunidade. Porque a União é um grande e original projecto político que trouxe à Europa cinquenta anos de paz, de bem-estar às sociedades europeias - mesmo às mais desiguais - e de prestígio no mundo inteiro.
É verdade que desde há alguns anos a burocracia de Bruxelas e a influência hegemónica americana parecem ter subvertido os grandes ideais europeus. A Europa tornou-se muito conservadora. As duas maiores famílias políticas europeias - que praticamente fizeram a Europa - foram: a socialista ou social-democrata e a democracia cristã. Ambas perderam força. Hoje, em 27 Estados europeus, haverá apenas 3 ou 4 governos que ousam afirmar-se socialistas ou trabalhistas; e as democracias cristãs, tirando a alemã, evoluíram no sentido dos partidos populares, populistas e ultraconservadores, o que faz toda a diferença.
As crises múltiplas - e as terríveis dificuldades que trazem consigo -, para encontrarem qualquer solução e não desaguarem no caos ou em revoltas sangrentas, vão obrigar ao regresso em força da política e dos grandes ideais humanistas. Requer-se imaginação estratégica, persistência e coragem, muita coragem. Para transformar o que hoje nos parece impossível numa promissora realidade, amanhã. [Mário Soares, Diário de Notícias de 24/07/08]
Alheiam-se dos problemas. O que não quer dizer que estejam dispostos a consentir que os seus Estados abandonem a construção europeia ou saiam da Comunidade. Porque a União é um grande e original projecto político que trouxe à Europa cinquenta anos de paz, de bem-estar às sociedades europeias - mesmo às mais desiguais - e de prestígio no mundo inteiro.
É verdade que desde há alguns anos a burocracia de Bruxelas e a influência hegemónica americana parecem ter subvertido os grandes ideais europeus. A Europa tornou-se muito conservadora. As duas maiores famílias políticas europeias - que praticamente fizeram a Europa - foram: a socialista ou social-democrata e a democracia cristã. Ambas perderam força. Hoje, em 27 Estados europeus, haverá apenas 3 ou 4 governos que ousam afirmar-se socialistas ou trabalhistas; e as democracias cristãs, tirando a alemã, evoluíram no sentido dos partidos populares, populistas e ultraconservadores, o que faz toda a diferença.
As crises múltiplas - e as terríveis dificuldades que trazem consigo -, para encontrarem qualquer solução e não desaguarem no caos ou em revoltas sangrentas, vão obrigar ao regresso em força da política e dos grandes ideais humanistas. Requer-se imaginação estratégica, persistência e coragem, muita coragem. Para transformar o que hoje nos parece impossível numa promissora realidade, amanhã. [Mário Soares, Diário de Notícias de 24/07/08]
1 comentário:
Quando se refere às mais desiguais estará decididamente a referir-se à nossa....que ele ajudou a que hoje seja tão desigual...É conveniente não esquecer..Poderá mesmo dizer-se que foi um dos grandes obreiros dessa desigualdade.
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