13/06/08

Jornal Torrejano, 13 de Junho de 2008

Já nas bancas e on-line está o Jornal Torrejano. Para primeira página é “puxado” o custo do aluguer da ponte militar. O Município já pagou 180 mil euros. Referência para subida do Monsanto, do vizinho concelho de Alcanena, à segunda divisão nacional. Curiosidade: a aldeia só possui 700 habitantes. Saliente-se ainda o êxito do Festival de Folclores da Lamarosa. É assim a vida na província.

Na opinião, comece-se como é hábito pelo cartoon de Hélder Dias. Depois, José Ricardo Costa escreve A las cinco de la tarde (afinal, não estou só com o meu gosto de touradas. Belo texto, Zé. O pessoal de filosofia começa a tornar-se suspeito), Santana-Maia Leonardo, O peso do chumbo, Jorge Salgado Simões, Também em defesa do touro bravo (ó Jorge, não havia necessidade…), Carlos Henriques, Com o pé direito, e este blogger, O nosso atraso.

Para a semana mais haverá, por Toutatis, desde que o céu não desabe sobre as nossas pobres e pouco úteis cabeças. Bom fim-de-semana.

2 comentários:

Alice N. disse...

Acabo de ler a sua crónica "O nosso atraso". Excelente reflexão sobre a essência do povo português. Também acho que há um problema de mentalidade e que o "desenrascanço" e a falta de exigência explicam muito do país que somos. Há ainda o "chico-espertismo" (muito ligado ao tal desenrascanço), a postura do faz-de-conta e a mania das grandezas, que nos têm levado a fazer opções ruinosas, em vez de apostarmos no desenvolvimento.

Sempre quisemos mostrar ao mundo que somos grandes e, quanto mais desperdiçamos recursos nesse desígnio, mais mostramos a nossa pequenez e alimentamos a nossa pobreza. Enfim, não aprendemos nada com os erros da História! Continuamos a gostar muito de lantejoulas e de tudo o que brilha em geral; e isso tanto é verdade para os políticos como para o cidadão comum. Só queremos saber do embrulho, não nos importamos com o vazio do mesmo. Assim, não vamos lá...

maria correia disse...

Quando era menina, minha mãe ensinou-me que NUNCA se deveria usar a palavra «desenrascar» mas sim desembaraçar; que era feio dizer «ela é muito desenrascada» mas que se deveria dizer «ela é muito desembaraçada». E ser desembaraçado era bom, significava que se podia ser autónomo, livrar-nos de apuros, de problemas. Era o contrário de «pessoa atada» que não conseguia desenredar-se de um problema, resolver uma situação...No fundo, «desenrascar» significa o mesmo que «desembaraçar-se», é apenas uma questão de «modos de falar». E todas as línguas têm palavras ou expressões para a mesma atitude. TODAS. Já ouviram um polaco falar da sua capacidade para se «desenrascar»? Ainda hoje sigo a regra de minha mãe e, se por acaso uso a palavra «desenrascar» numa tradução para o português, é porque o contexto o exige. Considero-me uma pessoa desembaraçada e considero os portugueses magnificamente desembaraçados. Possuem uma capacidade de luta contra a adversidade espantosa. Foi o seu desembaraço que os fez navegar caravelas ligeiríssimas e pesadas naus contra todos os ventos do norte, quando mais ninguém o fazia... E do sul. Foi o seu desembaraço que os fez aguentar a peste negra e as crises cerealíferas de Trezentos e Quatrocentos. O domínio castelhano até 1640 e a Restauração. Foi o seu desembaraço que criou D. Dinis e os pinhais para vencer o avanço do mar, Pedro Nunes, Diogo Cão, Vasco da Gama, Egas Moniz, Damásio, o neurologista, Saramago, outro Nobel, Vieira da Silva, Paula Rego, Natália Correia, toda uma hoste de grandes homens e mulheres desembaraçados. Foi o seu desembaraço que nos fez sobreviver à Independência do Brasil (ai, o ouro! Que se foi…), às invasões francesas, ao Ultimatum, a uma ditadura de cinquenta anos que afectou a vida de meus pais que, desembaraçadamente, arranjaram estratégias de sobrevivência às perseguições políticas, e de tantos outros milhares de portugueses. Somos, sempre fomos, afinal, uma pequena faixa de terra, de Finisterrae, metade montanha e ermo, metade deserto, empurrados por toda a Europa, com Espanha à frente, para um Atlântico imenso e selvático. Foi o nosso desembaraço que nos tornou a quinta língua mais falado no mundo…inacreditável, país tão minúsculo…Foi o nosso desembaraço que nos fez criar Camões e Pessoa, para só mencionar dois, lidos, traduzidos, estudados, nos quatro cantos do mundo. Ensino português a estrangeiros há vinte anos e vi gerações de alunos maravilhados com estes nomes e outros! Foi o nosso desembaraço que nos fez sobreviver a tudo, sem nada ter. Nem ouro, nem petróleo, nem nada disso que faz girar os mais ricos. É o nosso desembaraço que faz de nós dos povos emigrantes mais estimados lá fora pela sua capacidade de trabalho e dedicação. 15.000, no mínimo, na Suíça. 30 e tal mil ou mais na Alemanha, milhares, nos Estados Unidos, na América Central…Falta-nos «planeamento?»...não somos alemães. Falta-nos «capacidade de investir?»...já investimos tanto e perdemos tanto…Investir em quê, num mundo de capitalismo selvagem? Com nada, fazemos uma festa, vamos ao fado e exorcizamos a tristeza. Com nada, vamos sobrevivendo. Toda a Europa está em crise. E todos têm muito mais do que nós. A elite política é uma vergonha? É uma vergonha em quase toda a parte. Aprecio o nosso desembaraço e a nossa capacidade de sobrevivência. É o que nos faz estar aqui há mil anos, nem sei bem como. Ah, já agora, esta Finisterra magnífica e miserável tem as fronteiras fixas mais antigas da Europa. E, sinceramente, se o meu mecânico me puder «desenrascar» dois pneus em conta para o carro, ficar-lhe-ei profundamente agradecida. É que dois pneus custam, no mínimo, oitenta euros, e este mês tenho duas propinas das faculdades dos meus filhos para pagar, fora o resto. O ISCTE custa mil euros ao ano, agora e Faculdade de Letras 750 Euros. E não tenho vergonha alguma em dizer que o mecânico me «desenrascou»: ou seja, me ajudou a desembaraçar-me de um problema, de um enredo, de um «entanglement», como dizem os ingleses, que também se «desenrascaram» muito bem da Grande Peste, em Cambridge, na época de Newton. É ler o que eles inventaram para se «desenrascar». E estar atento ao que continuam a fazer. O problema do nosso «atraso» é conjuntural, geográfico. Não é mental. Céus…o que temos feito com tão pouco ou nada…Muito mais do que vida. Muito mais do que a morte.