29/06/08

Exodus - VI

Se ouvirem os gemidos dos filhos do mundo
e nesse sopro uma canção então se erguer,
cativem nas vossas mãos, em sorte vos couberam,
nuvens de quartzo e se na hora a mais cálida
a voz de um barítono se levantar por todo o acampamento,
peguem nas máquinas e enterrem bem fundo o nome
que vos deram, dele já não sabereis a cor das sílabas
nem o sabor de cada uma das letras que a vós vos disseram.

Sangrarão pelo esforço as falanges e delas se desprenderá
pela noite a luz, iluminará de ervas ralas
as bocas, a mão da cerzideira tão bem as trabalhou.
Uma saraivada de remos pelas águas e a aurora virá
e tudo se revestirá de veludo negro; nem as abelhas
o pólen delibarão, presas na ânsia, o cansaço
a tece, deixar-se-ão acorrentar nas suadas células da colmeia,
se um Sol de neve declinar no horizonte.

Não é tempo de sacrifícios; há muito os animais
partiram, esquecidos do trabalho, a cabeça dos
homens lhes tinha como destino dado. Apenas nos
semáforos azuis haverá filas de insectos noctívagos;
esperam a ordem, um anjo de cabelo ralo
e trombeta de zinco, com frágil sopro, a ordenará.
A canção tomará por penhor as águas do poço,
e na escura noite, pela fúria da roldana, a lua nascerá.

Jorge Carreira Maia (2007). Exodus.

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