Para que serve a sociologia?
Graças ao blogue A Educação do Meu Umbigo, tive acesso a excertos da intervenção da ministra da Educação, a socióloga Maria de Lurdes Rodrigues, na sessão abertura do VI Congresso Português de Sociologia. O texto vale a pena ser lido com atenção, pois está nele tudo o que sempre me levou a desconfiar da sociologia. É muito curiosa a relação entre a sociologia e a praxis política e a forma como a socióloga divide a sociologia em boa e má, como se estas categorias pertencessem ao campo científico e não ao jogo linguístico da moralidade.
Bom é quando há “estreita articulação entre o campo da sociologia e o campo das políticas públicas, de que ambos têm retirado benefícios”. Também parece pertencer ao campo das coisas boas o contributo decisivo da Sociologia “para um melhor conhecimento da realidade educativa nacional e, portanto, para uma melhor fundamentação de próximas medidas de política educativa.”
Depois há os maus usos da inocente sociologia, nomeadamente das teses da reprodução social (cf. Bourdieu & Passeron). E em que consiste esta maldade? Consiste “transformar as origens e contextos sociais em obstáculos inultrapassáveis pela escola, condenada por isso a funcionar como mero mecanismo de confirmação de destinos sociais predeterminados. Tais usos têm confortado a inércia e a ineficácia do sistema educativo, desresponsabilizando os agentes educativos pelos resultados da sua acção, legitimando o conformismo e recusando à escola qualquer papel fundamental na mudança social.”
Perdoe-se a longa situação. Mas o lugar comum, a banalidade de pensamento, a repetição de um chavão sem fundamento, mostram bem a artilharia ideológica e a soma de preconceitos que habitam o cérebro da ministra da Educação.
Para mim é um mistério que os sociólogos não percebam que aquilo a que chamam ciência não passa da mais pura ideologia. Pior, de uma ideologia de carácter totalitário, pois fala a partir de uma putativa “verdade científica”. Nunca consegui perceber, no âmbito da acção humana, como é que da descrição, já enquadrada em teorias de reputação científica duvidosa, de determinadas realidades sociais se podem extrair prescrições e imperativos para a acção política (aquilo que a senhora ministra chama fundamentar). Descrever o que uma coisa é ou como tem sido, não dá qualquer legitimidade a qualquer enunciação sobre como ela deverá ser. O que a ministra faz, aliás no seguimento até de contributos “científicos” de outras áreas, como as “ciências” da educação, é disfarçar a sua ideologia e embrulhá-la numa autoridade que ela reputa de científica. Não há nenhuma verdade científica sobre como deverá ser a escola. Existem em conflito várias teorias, todas de carácter ideológico, que se confrontam na arena política. Só isso. A sociologia serve assim como arsenal ideológico para imposição de políticas absolutamente discutíveis. Mas, e isso é muito claro na acção política da ministra, a sociologia serve como fornecedora de um credo que apenas admite um caminho para a educação, onde o debate ideológico é sonegado e tudo aparece como a emanação na praxis de uma verdade prévia, a que os gentios se deverão converter em vez de questionar. Eis a natureza totalitária da ideologia sociológica.
Curioso, porém, é que esta “cientificidade” pode ter bons e maus usos, o que é uma concepção extraordinária. A ciência pretende ser descritiva e portanto amoral. Ao trazer o bom e o mau uso, a ministra da educação, em acto falhado, confessa o uso ideológico das teorias sociológicas. O problema, porém, é que o bem e o mal também são objecto de disputa e conflito.
O discurso da senhora ministra mostra para que serve, em muitos casos, a sociologia: uma ideologia justificativa das opções políticas, fundada em lugares-comuns, clichés e banalidades, aos quais não falta sequer um certo moralismo. É a este tipo de ideologia que se entrega o destino da educação de um país. Mas isto é também a prova provada de que o niilismo está cada vez mais activo e o seu lugar preferido de acção é o poder. A partir do poder a capacidade de dissolução das instituições é muito maior. Fazendo um curto-circuito, descobrimos que a sociologia é uma estratégia niilista que legitima o poder pós-moderno na destruição das instituições e dos valores remanescentes das tradições presentes no tecido social. E é por isso mesmo que, apesar de contra-indicado, a socióloga Maria de Lurdes Rodrigues não consegue fugir à temática moral: bom é o que dissolve, mau é o que conserva. A frase “tais usos (da sociologia da reprodução) têm confortado a inércia e a ineficácia do sistema educativo, desresponsabilizando os agentes educativos pelos resultados da sua acção, legitimando o conformismo e recusando à escola qualquer papel fundamental na mudança social” é, toda ela, um monumento ao preconceito ideológico, fundado numa visão falsa da realidade, e a enunciação clara do programa niilista, onde a vontade é mobilizada para processos de destruição, nomeados agora como mudança social. É curioso que a proposição, subentendida, “a escola tem um papel fundamental na mudança social” seja apresentado de forma axiomática, enquanto, na verdade, não passa de uma expressão puramente ideológica e bastante discutível.
A conexão da sociologia com o poder revela então o papel que lhe parece reservado: legitimar de forma totalitária, a partir da sua posição de “ciência” e da sua conexão à “verdade”, o avanço do niilismo nas sociedades ocidentais. Quem conhece o sistema educativo percebe como em três anos quase tudo foi destruído, tornado menos funcional, como os parcos valores de exigência ainda existentes foram transformados em nada. Há de facto uma coerência assinalável entre uma teoria ideológica de carácter niilista e uma praxis política também niilista. Não restará pedra sobre pedra.
Bom é quando há “estreita articulação entre o campo da sociologia e o campo das políticas públicas, de que ambos têm retirado benefícios”. Também parece pertencer ao campo das coisas boas o contributo decisivo da Sociologia “para um melhor conhecimento da realidade educativa nacional e, portanto, para uma melhor fundamentação de próximas medidas de política educativa.”
Depois há os maus usos da inocente sociologia, nomeadamente das teses da reprodução social (cf. Bourdieu & Passeron). E em que consiste esta maldade? Consiste “transformar as origens e contextos sociais em obstáculos inultrapassáveis pela escola, condenada por isso a funcionar como mero mecanismo de confirmação de destinos sociais predeterminados. Tais usos têm confortado a inércia e a ineficácia do sistema educativo, desresponsabilizando os agentes educativos pelos resultados da sua acção, legitimando o conformismo e recusando à escola qualquer papel fundamental na mudança social.”
Perdoe-se a longa situação. Mas o lugar comum, a banalidade de pensamento, a repetição de um chavão sem fundamento, mostram bem a artilharia ideológica e a soma de preconceitos que habitam o cérebro da ministra da Educação.
Para mim é um mistério que os sociólogos não percebam que aquilo a que chamam ciência não passa da mais pura ideologia. Pior, de uma ideologia de carácter totalitário, pois fala a partir de uma putativa “verdade científica”. Nunca consegui perceber, no âmbito da acção humana, como é que da descrição, já enquadrada em teorias de reputação científica duvidosa, de determinadas realidades sociais se podem extrair prescrições e imperativos para a acção política (aquilo que a senhora ministra chama fundamentar). Descrever o que uma coisa é ou como tem sido, não dá qualquer legitimidade a qualquer enunciação sobre como ela deverá ser. O que a ministra faz, aliás no seguimento até de contributos “científicos” de outras áreas, como as “ciências” da educação, é disfarçar a sua ideologia e embrulhá-la numa autoridade que ela reputa de científica. Não há nenhuma verdade científica sobre como deverá ser a escola. Existem em conflito várias teorias, todas de carácter ideológico, que se confrontam na arena política. Só isso. A sociologia serve assim como arsenal ideológico para imposição de políticas absolutamente discutíveis. Mas, e isso é muito claro na acção política da ministra, a sociologia serve como fornecedora de um credo que apenas admite um caminho para a educação, onde o debate ideológico é sonegado e tudo aparece como a emanação na praxis de uma verdade prévia, a que os gentios se deverão converter em vez de questionar. Eis a natureza totalitária da ideologia sociológica.
Curioso, porém, é que esta “cientificidade” pode ter bons e maus usos, o que é uma concepção extraordinária. A ciência pretende ser descritiva e portanto amoral. Ao trazer o bom e o mau uso, a ministra da educação, em acto falhado, confessa o uso ideológico das teorias sociológicas. O problema, porém, é que o bem e o mal também são objecto de disputa e conflito.
O discurso da senhora ministra mostra para que serve, em muitos casos, a sociologia: uma ideologia justificativa das opções políticas, fundada em lugares-comuns, clichés e banalidades, aos quais não falta sequer um certo moralismo. É a este tipo de ideologia que se entrega o destino da educação de um país. Mas isto é também a prova provada de que o niilismo está cada vez mais activo e o seu lugar preferido de acção é o poder. A partir do poder a capacidade de dissolução das instituições é muito maior. Fazendo um curto-circuito, descobrimos que a sociologia é uma estratégia niilista que legitima o poder pós-moderno na destruição das instituições e dos valores remanescentes das tradições presentes no tecido social. E é por isso mesmo que, apesar de contra-indicado, a socióloga Maria de Lurdes Rodrigues não consegue fugir à temática moral: bom é o que dissolve, mau é o que conserva. A frase “tais usos (da sociologia da reprodução) têm confortado a inércia e a ineficácia do sistema educativo, desresponsabilizando os agentes educativos pelos resultados da sua acção, legitimando o conformismo e recusando à escola qualquer papel fundamental na mudança social” é, toda ela, um monumento ao preconceito ideológico, fundado numa visão falsa da realidade, e a enunciação clara do programa niilista, onde a vontade é mobilizada para processos de destruição, nomeados agora como mudança social. É curioso que a proposição, subentendida, “a escola tem um papel fundamental na mudança social” seja apresentado de forma axiomática, enquanto, na verdade, não passa de uma expressão puramente ideológica e bastante discutível.
A conexão da sociologia com o poder revela então o papel que lhe parece reservado: legitimar de forma totalitária, a partir da sua posição de “ciência” e da sua conexão à “verdade”, o avanço do niilismo nas sociedades ocidentais. Quem conhece o sistema educativo percebe como em três anos quase tudo foi destruído, tornado menos funcional, como os parcos valores de exigência ainda existentes foram transformados em nada. Há de facto uma coerência assinalável entre uma teoria ideológica de carácter niilista e uma praxis política também niilista. Não restará pedra sobre pedra.
4 comentários:
Pra quem fala com tanta convicção sobre o tema, espera-se um pouco mais de embasamento e argumentos... péssima a fala! ridicula na realidade
adorei seu texto você esta de parabens sucesso sempre.
beijos e abraços...
.
adorei sua fala sobre a sociologia,
foi muito util pra mim,so acho que podia colocar as palavras na linguagem dos jovens de hoje em dia.fora isso meus parabens continue assim pois a sociologia e uma materia muito importante para todos hoje em dia.
beijos...
realmente vai ajudar muito no meu trabalho sobre pra que serve a sociologia.
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