24/06/08

Adriano Moreira - A fragilidade europeia

De facto o globalismo económico destacou a agressão económica como um instrumento estratégico da maior importância e perigosidade. Neste caso, a Europa está numa situação de vulnerabilidade aguda, como subitamente se tornou evidente com a crise dos combustíveis.

A expansão colonial do século XIX foi justificada pelas democracias europeias da frente atlântica, nos respectivos parlamentos, pela necessidade de dominar as fontes de matérias-primas e garantir mercados de produtos acabados. Destruído esse império, a realidade, demonstrada pelas manifestações que desfilam pelas capitais europeias, é que a Europa é um espaço com debilidades, carente de matérias-primas, carente de energia, carente de mão-de-obra, e começa a dar sinais de carência de confiança.

A globalização implica sistemas abertos que sofrem as intervenções cuja origem a lei da reflexividade situa nas antigas dependências coloniais, e os sinais de que a capacidade europeia de reformular e reanimar o sistema está em dificuldades são eloquentes. A falta actual de lideranças poderosas e confiáveis também não ajuda a inverter a tendência

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A crise que traz multidões para a rua em protesto pelas dificuldades de vida causadas pela disfunção do sistema económico globalista, que foi instalado com oferecida abonação científica e pouca governança, não é amenizada pelo recurso a semânticas paliativas porque a pobreza crescente, o desemprego, e a fome, incitam ao exercício de direitos naturais pouco condescendentes. Esses direitos naturais exigem uma sociedade de confiança para que a contenção recíproca, necessária para assegurar a coexistência efectiva de todos, seja um regulador natural. A pouco amiga circunstância externa, exige uma sólida mobilização cívica a que a UNESCO de longe apela, para que a política retome o comando confiável e oriente o rumo para horizontes menos inquietantes. [Adriano Moreira, Diário de Notícias de 24/06/08]

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