01/04/08

Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Sete

07 - Gustav Klimt - Tannenwald, 1901 [Pinhal]



Sete


Não há caminhos na floresta
nem folhas nas árvores, apenas a caruma
junca o chão, manchando de castanho
a erva jovem e verde. Flores silvestres
anunciam o dia e a difusa luz
mergulha num pântano de madeira.

Quando bravios passam os animais,
o vento sopra e levanta do chão uma poeira
tão negra que toca o fundo do coração.
O húmus leveda assim sob o peso da erva
como se a fonte da vida,
para à morte fugir, no seio da terra
tão só ficasse.

Não são luminosos os dias
na floresta húmida onde cresce
a madeira que fará a tua casa.
Vai pela manhã e marca uma a uma
as árvores que morrerão
para teres abrigo e cama
e calor no Inverno que chegará.

Não chores, olha como elas
se despem para o holocausto
e felizes estendem o tronco
às mãos do lenhador: da vida
as fará chegar ao calor
do que dizes ser
o sítio onde a tua sombra
se deita ao descansar.


Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008

4 comentários:

Anónimo disse...

Bonito, Jorge.
E.B.

maria correia disse...

Bonito, sempre...

Anónimo disse...

Sabes que eu não quero ser anónio.
Obrigado também pela tua lucidez. Ou a nossa lucidez da filosofia.
Eduardo Bento

Jorge Carreira Maia disse...

Viva Eduardo,

Então quando apareces lá pela escola? Apesar de tudo, aquilo ainda vale apena pela gente boa que por lá há. E apesar desta gente que nos governa, ainda fazemos coisas que eles nem imaginam. O Pipa montou uma excelente exposição sobre teatro. No 10.º ano, comecei a Estética com audição de música clássica (excertos de Wagner, Tchaikovsky, Pergolesi e Beethoven) e a miudagem ouviu calada, escreveu sobre o que ouviu e interpretou. Tu fazias o sermão do Vieira, o teatro emuitas coisas mais, como muitos outros. Mas nós somos uns camelos, não ensinamos nada, apesar de proporcionarmos a mais de 90% dos nossos miúdos contacto com coisas que só as «boas famílias» têm acesso. É isto que enraivece o ministério.

Um abraço,
JCM