29/04/08

O empobrecimento do país do betão

Num editorial de hoje do Diário Económico, Pedro Marques Pereira chama a atenção para o nosso empobrecimento contínuo. A Estónia e a Eslováquia ultrapassar-nos-ão, no ano que vem, em riqueza produzida por habitante. Fazíamos há anos parte de um clube semi-desenvolvido que integrava a Espanha, a Grécia e a Irlanda. Hoje a Grécia tem um PIB de 90% da média europeia, a Espanha de 93% e a pobre Irlanda apresenta um PIB 30% superior à referida média. Em Portugal o PIB é de 66% dessa média. Atrás de nós, em breve, apenas estarão a Bulgária e a Roménia.

Quando é que nos começámos a atrasar? Quando o dinheiro jorrou sem parar da CEE e o país se encheu de auto-estradas, de jeeps e de carros de grande cilindrada. A pobreza do país foi a riqueza de alguns. As opções tomadas por Cavaco Silva, aquelas que lhe permitiam fazer demagogia e falar do pelotão da frente, foram funestas. A mão-de-obra barata, a construção civil, o dinheiro a correr rápido e fácil em vez de criarem um país mais forte abriram um enorme fosso social e tornaram-nos mais atrasados. Guterres chega a ser patético perante uma realidade que ele percebeu mas que não tinha força ou talento para mudar. Acabou por torná-la ainda pior. Agora, para além da retórica do choque tecnológico, qual a esperança para animar a economia? A construção civil e as obras públicas (aeroporto, pontes, estradas, ferrovia), a mesma receita de Cavaco. Será tudo isto fruto de um fado?

Talvez. O fado é o da qualidade das elites económicas e políticas. O tecido empresarial é muito frágil e de renovação muito lenta. O dinheiro corre, como é natural, para os projectos mais fáceis e de remuneração mais rápida, aqueles que têm o suporte do Estado. Os políticos vêm nesse projecto a sua salvação. Este casamento entre empresários e políticos destrói as energias do país. O problema de Portugal não é o funcionalismo público, nem o défice do Estado. O problema de Portugal é a aliança entre política e certa economia, uma espécie de união nacional da grande mediocridade. Depois, o choeque tecnológico, as novas oportunidades, o sucesso para todos, a universidade para maiores de 23, o simplex, são formas simplex de atirar areia para os olhos do indígena. A realidade é dura como o betão que aí vem em doses maciças. Portugal é o país do betão e não há nada a fazer. É o fado.

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