Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Trinta e dois
32 - Gustav Klimt - Unterach am Attersee, 1915 [Unterach no Lago de Atter]
Trinta e dois
O pavor, agora a crescer dentro de mim, vem
do centro da floresta, talvez dos campos tão verdes
que parecem suspensos sobre as casas. Que histórias
terás para me contar – palavras ferozes a vir
em teus lábios recordar-me o terror branco da infância?
Na mudez que de mim se apossou, brilha a voz
que temo escutar quando a tua boca se abre
e de lá vêm palavras, negras palavras feitas de sílabas
de azeviche coladas a pez, palavras em que o sentido
se desfaz mal são pronunciadas e a poeira
delas toma conta e as arrasta para um universo
de galáxias informes.
Se as águas estão paradas e se o bulício dos homens
se calou, foi porque falaste e a escuridão desceu,
tapou os céus e cobriu as nuvens com um veludo tão
negro que tudo se descoloriu. Os barcos abandonaram
o porto e nos campos não há homens ou animais.
Mesmo os deuses luminosos se recolheram, apenas
um ruído de trovoada se escuta ao longe,
enquanto os olhos se abrem para o espanto
das aves de rapina, o céu cruzam como se
fossem bombardeiros em missão de reconhecimento,
talvez anjos tomados pelo orgulho, do bem
se afastam cansados de tanta luz.
Se ainda te toco com as minhas mãos,
a pele, aquela que te cobre o ser, esfarela-se
e caiem pequenas nuvens de areia pelo chão.
Não entrarás naquelas casas, todas as portas
se fecharam ao teu olhar e se das janelas
ainda há quem espreite, não tarda que as portadas
se cerrem como se uma noite eterna viesse
e os simples moradores adormecessem no terror
dos ladrões. Sento-me na luz da tua sombra
e enfrento o pavor que se insinua no estômago
ao escutar o zumbido que dança nesses lábios,
um dia os toquei, e se espalha pelo horizonte,
a roubar o futuro a quem, no presente de cinza
em que vive, perdeu a derradeira linha do passado.
Desenho as últimas letras e nas folhas de cada árvore
espero a vinda não de um deus ou da esperança,
apenas dos buracos negros, a volátil matéria para si atraem:
entro ali e tudo se dissolve na ausência de luz
que é a vida nesta terra de florestas suspensas
e planícies verdes e suaves, amadurecidas
por um lago onde te escondes com a insídia
das tuas palavras, a morte impenitente me trazem.
do centro da floresta, talvez dos campos tão verdes
que parecem suspensos sobre as casas. Que histórias
terás para me contar – palavras ferozes a vir
em teus lábios recordar-me o terror branco da infância?
Na mudez que de mim se apossou, brilha a voz
que temo escutar quando a tua boca se abre
e de lá vêm palavras, negras palavras feitas de sílabas
de azeviche coladas a pez, palavras em que o sentido
se desfaz mal são pronunciadas e a poeira
delas toma conta e as arrasta para um universo
de galáxias informes.
Se as águas estão paradas e se o bulício dos homens
se calou, foi porque falaste e a escuridão desceu,
tapou os céus e cobriu as nuvens com um veludo tão
negro que tudo se descoloriu. Os barcos abandonaram
o porto e nos campos não há homens ou animais.
Mesmo os deuses luminosos se recolheram, apenas
um ruído de trovoada se escuta ao longe,
enquanto os olhos se abrem para o espanto
das aves de rapina, o céu cruzam como se
fossem bombardeiros em missão de reconhecimento,
talvez anjos tomados pelo orgulho, do bem
se afastam cansados de tanta luz.
Se ainda te toco com as minhas mãos,
a pele, aquela que te cobre o ser, esfarela-se
e caiem pequenas nuvens de areia pelo chão.
Não entrarás naquelas casas, todas as portas
se fecharam ao teu olhar e se das janelas
ainda há quem espreite, não tarda que as portadas
se cerrem como se uma noite eterna viesse
e os simples moradores adormecessem no terror
dos ladrões. Sento-me na luz da tua sombra
e enfrento o pavor que se insinua no estômago
ao escutar o zumbido que dança nesses lábios,
um dia os toquei, e se espalha pelo horizonte,
a roubar o futuro a quem, no presente de cinza
em que vive, perdeu a derradeira linha do passado.
Desenho as últimas letras e nas folhas de cada árvore
espero a vinda não de um deus ou da esperança,
apenas dos buracos negros, a volátil matéria para si atraem:
entro ali e tudo se dissolve na ausência de luz
que é a vida nesta terra de florestas suspensas
e planícies verdes e suaves, amadurecidas
por um lago onde te escondes com a insídia
das tuas palavras, a morte impenitente me trazem.
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