Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Vinte
Vinte
Aquilo que se vê neste quadro só nele existiu
e não fora a mão que o pintou
o lago teria secado
e as árvores ardido
e a casa, umas caves de cerveja, dizem,
não teria cor
nem janelas abertas para a água
nem portas por onde entrar ou sair
nem paredes que abriguem do frio
ou telhado que esconda da chuva.
Se a mão se dobrou
não foi para que um quadro viesse à luz.
Se o pintor montou o cavalete
e nele amparou a tela e depois
a encheu de cor e fingiu ser luz
a luz que vemos,
foi para que o mundo fosse mundo
e um lago se soubesse enquanto lago
e as caves fossem inventadas
e nelas estagiasse a cerveja que haveria de beber,
quando sentado na varanda de sua casa,
comigo falasse sobre as árvores
que acabara de criar para que
pudessem beber a água que por ali havia
e assim crescessem para o céu
e escurecessem o horizonte
e tudo se tornasse um mistério,
enquanto os olhos espreitam atónitos
a água que ali vêem e cujo rumor escuto
se o oiço falar de árvores e cores
e de um mundo brando
que o lume da tarde, ao arder, consigo levou.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
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