23/04/08

Tratado de Lisboa e a morte da democracia

Discute-se e aprova-se hoje a disfarçada constituição europeia. Sem brilho, às escondidas do povo. Sócrates incha de orgulho e destaca, na linguagem oca que o caracteriza, o “grande consenso político e social em torno de Tratado de Lisboa”. Não sou particularmente adepto do instituto do referendo, mas em caso de transferências de soberania só o legítimo detentor da soberania, o povo, pode autorizar essa transferência. Por essa Europa fora, a palavra deveria ter-lhe sido dada. A forma como a decisão está a ser tomada mostra bem o estado da doença europeia. As elites políticas e económicas não confiam no julgamento popular. Decidiram, com óbvia má-fé, usurpar o poder. A decisão que o parlamento português, como outros, tomou é um prenúncio da pouco importância que a democracia já tem no mundo novo em que vivemos. A democracia está moribunda. Sucumbirá sob a mão de interesses obscuros e poderes fácticos, com a óbvia conivência de uma elite política irresponsável e, passe o pathos da palavra, traidora. Sócrates ri, enlevado pelo nome do tratado e pela astúcia da diplomacia portuguesa, pela sua manha, que julga ele ser génio político. Que este tratado diminua o papel de Portugal na Europa e seja, na sua aprovação, um golpe na vida democrática é, para ele, irrelevante. O seu nomezinho lá ficará na história. Mas em que lugar da história não o sabe ele e os tempos são caprichosos.

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