João Carlos Espada e Platão
Há coisas estranhas neste país. Uma delas é o prestígio intelectual de João Carlos Espada. Para além de um conjunto de frases inócuas sobre a gentlemanship e o louvor de Karl Popper, o Professor Espada entretêm-se, na sua coluna no Expresso, a debitar uma ideias edificantes e insípidas sobre a moral e a política. Nada que faça mal ao mundo. Onde se revela a sua estatura intelectual, porém, é no ódio a dois dos grandes pensadores do Ocidente, Platão e Nietzsche. Na coluna de hoje, depois de perorar, no seu estilo habitual, sobre a relação entre fé e política nos EUA, resolve dar lições à esquerda e à direita. À direita diz: “seria melhor confiar menos em reaccionários antidemocratas como Platão e ouvir mais Edmund Burke Winston Churcill”. Ora, como é evidente, aquilo que nós mais vemos é a direita a estudar e a fundar-se em Platão. Um intelectual com um mínimo de profundidade não diz disparates destes. O termo reaccionário é inaplicável a Platão, é um anacronismo. E que democracia era aquela a que se opunha Platão? Era uma espécie de democracia popular e directa, fundada num amplo grau de exclusão cívica, que estava em acelerado grau de decadência e de corrupção. Platão e Nietzsche, para desgosto do Professor Espada, são as figuras cimeiras do pensamento ocidental. O seu pensamento político é estranho para o pequeno burguês citadino? De certa maneira, mas a grandeza destes homens reside no facto de terem pensado muito para lá da política. Mais, talvez a política, incluindo a democrática, só possa ser pensada na sombra destas obras maiores. Parece que em Portugal compensa dizer disparates e falar com leviandade inaudita sobre aquilo que não se conhece ou não se compreende. Bom, vou continuar a minha leitura do Teeteto de Platão, na tradução da Gulbenkian.
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