19/04/08

Pacheco Pereira e o beco sem saída

Não, não é do PSD que falava Pacheco Pereira na sua crónica na revista Sábado. Falava dos sindicatos dos professores e do acordo ou entendimento, como preferir segundo a orientação semântica ou partidária, com o Ministério da Educação. Estariam os sindicatos num beco sem saída provocado pela grande manifestação de 8 de Março e, por isso, precisavam de chegar a um acordo. Mas o governo, por questões eleitorais, também precisava de um acordo. E conclui Pacheco Pereira: “Foi por isso que, de repente, se chegou a um acordo que, pelos vistos, os “professores”, citados pelos jornais, entendem como uma derrota e não como a “grande vitória”. Percebe-se porquê: os professores que se manifestavam não queriam, na sua esmagadora maioria, nenhuma avaliação de desempenho, e vai continuar a haver avaliação.

Para além da má-fé de Pacheco Pereira, má-fé fundada na ostensiva ignorância daquilo que opõe os professores ao ME (Estatuto da Carreira que elimina a liberdade pedagógica e divide a carreira de forma arbitrária, o miserável concurso para professor titular, o Estatuto do Aluno e a burocratização desta forma de avaliação e da própria profissão), Pacheco Pereira escamoteia o verdadeiro beco a que se está a conduzir a Educação e que vai atingir o país e os alunos de forma tão ou mais violenta do que atinge, neste momento, os professores. Há toda uma agenda semi-oculta que se orienta para retirar aos alunos da escola pública o direito a aprender, facilitando-lhes até à náusea a vida escolar, como forma de os tornar pouco competitivos no acesso às melhores universidades.

Desde o primeiro ciclo até ao 12.º ano, tudo é uma enorme confusão: currículos, programas disciplinares, práticas pedagógicas, formas de avaliação dos alunos, regime disciplinar. Este é o verdadeiro beco sem saída. Talvez os sindicalistas não entrem nele, mas os professores, os alunos, as famílias e o próprio país estão atolados nesse beco. E é este beco que Pacheco Pereira e muitos outros, mesmo se por vezes reconhecem as razões dos professores, se recusam a ver. Há uma estranha, ou nem por isso, solidariedade de clã, clã que une universitários, jornalistas e políticos, que assenta a sua opinião no desprezo pelo professorado do ensino não superior. É esse corporativismo oculto que não permite a essa gente suspeitar o abismo que se está a abrir, também e muito pela acção do actual governo, na área da educação. A avaliação de professores é apenas um pormenor no mar de problemas. Pormenor que poderia ter sido resolvido com toda a facilidade não fora o caso do governo estar interessadíssimo na confusão que armou.

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