Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Vinte e três
Vinte e três
Rosas e maçãs as vejo quando te olho no rosto
e assim vagueio pelos jardins que o mundo me doou
como se uma dor me ferisse ou uma agonia tocasse
ao de leve a pele viva onde encerro o coração.
Caminho entre as cores que o horizonte me traz
e soletro no silêncio do peito o teu nome
revestido de azul; embriago-me ao pensar
no fugaz corpo que, sob a árvore, tocou meus dedos
e os abriu para um céu de Agosto, mesmo que o
vento frio de Dezembro desminta as rosas
que os meus olhos vêem ou a fruta madura
que te ofereço no recôndito do meu braço.
Tenho as mãos nos bolsos e olho o dia que passa
mas as minhas palavras correm para esse pomar
iluminado onde uma Eva segredou palavras
brandas ao coração imperfeito daquele homem
tão cansado que todos lhe chamam Adão.
Se Eva eras tu na inquietação do meu peito
e eu mais não era do que um inútil Adão,
os pomares e as rosas vinham sobre mim
como a casa de onde o implacável juiz,
preso em seu silêncio, me expulsou, para que
no vasto mundo um pequeno pomar
deixasse crescer as rosas que te enfeitam o corpo
e as maçãs que te enganam o acre sabor da solidão.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
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