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Lusa que foi desmantelada uma rede luso-espanhola que explorava portugueses em situação de escravatura. Os portugueses pertenciam a famílias da zona do Porto, de baixa escolaridade e com problemas de droga e de álcool. Os salários que lhes eram pagos rondavam os 700 euros, mas eles não tinham acesso à conta bancária que era gerida pelos “contratadores”. Este tipo de crime parece estar a tornar-se comum. Mas por detrás dele existe uma realidade política, social e económica que não deixa de ser uma peça importante na compreensão destes fenómenos.
De facto, o Estado e a sociedade há muito que se desinteressaram dos sectores mais frágeis da população. Não é que seja possível controlar toda a gente. O problema é outro e está ligado ao elevado número de famílias em situação muito frágil em Portugal. É um problema de distribuição. Não apenas dos rendimentos, mas do conhecimento e das oportunidades. É também um problema do planeamento urbano e da forma como são concebidas cidades e vilas pelo país fora. Que um país da União Europeia, no ano de 2008, possua 1/5 da população nas margens da pobreza e que tenha criado um exército de desesperados aptos a serem logrados e escravizados, diz muito do que tem sido a forma como Portugal tem gerido a sua integração. É evidente que os partidos governamentais e o senhor Presidente da República nada têm a ver com o assunto. Coisa de marginais, dirão. Resta saber se os indivíduos cheios de iniciativa cuja organização foi desmantelada representam a seta que aponta o futuro. É claro que não há nenhuma empresa legal de aluguer de mão-de-obra que explore as pessoas. Escravatura, o futuro da humanidade? Que disparate…
1 comentário:
Este é o rosto do sucesso, da propalada modernidade, da excelência da governação!
Claro que não há pobreza. Claro que não há exploração. Claro que temos razões para nos orgulharmos do nosso país (a campanha da West Coast é elucidativa quanto a isso).
Saint-Exupéry referiu-se um dia a Portugal como o "paraíso triste". O paraíso (!?), se o houve, desnaneceu-se. Ficou apenas algo muito, muito triste...
E agora? Que faremos deste país?
Alice N.
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