Os filhos de Protágoras
«— Perguntas muito bem, Sócrates, e a mim satisfaz-me responder àqueles que me sabem interrogar. Na verdade, ao procurar-me, Hipócrates não experimentará os problemas que o perturbariam frequentando a companhia de outro sofista. Com efeito, os outros assoberbam os jovens. Quando os vêem fugir às especializações, empurram-nos novamente para elas, contra vontade, e ensinam-lhes cálculo, astronomia, geometria e música — e, ao mesmo tempo, lançou um olhar a Hípias. — Ao contrário, quem vem ter comigo não aprende senão as matérias que pretender. O meu ensino destina-se à boa gestão dos assuntos particulares — de modo a administrar com competência a própria casa — e dos assuntos da cidade — de modo a fazê-lo o melhor possível quer por acções quer por palavras.» [Platão, Protágoras, 318 d – 319 a]
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Este excerto do texto platónico é, do ponto de vista histórico, muito importante. Em primeiro lugar, porque mostra a emergência, com os sofistas, daquilo que se chama hoje um currículo. Em segundo lugar, porém, o conflito que atravessa actualmente a educação já está presente na Grécia dos sofistas. A posição de Protágoras e a de Hípias representam duas correntes que ainda se digladiam na arena educativa. Protágoras surge aqui como o representante de um currículo difuso centrado no aluno, de um currículo que não quer assoberbar os jovens com coisas de que eles não gostam (matemática, física, música). Preocupa-se apenas com a cidadania em geral. De certa forma, é o antepassado longínquo do eduquês e de pessoas tão ilustres como Valter Lemos e a generalidade dos ministros da educação portugueses do pós-25 de Abril, para além de alguns professores com pouca vocação para o saber.
A posição oposta, dentro da sofística, defende que os jovens devem fazer a sua formação passando pelo saber disciplinar, proveniente da tradição pitagórica (matemáticas, música, astronomia) e por disciplinas da área da língua e da oratória. De certa forma, são os antecessores daqueles que defendem a importância de uma educação disciplinar e formal, os quais foram determinantes no ensino ocidental até ao século XX. São estes professores que o actual governo quer eliminar da escola pública portuguesa.
Não há nada de novo sob o Sol. A discussão é velha e irresolúvel. Neste momento, ganham, em Portugal, os filhos de Protágoras.
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Este excerto do texto platónico é, do ponto de vista histórico, muito importante. Em primeiro lugar, porque mostra a emergência, com os sofistas, daquilo que se chama hoje um currículo. Em segundo lugar, porém, o conflito que atravessa actualmente a educação já está presente na Grécia dos sofistas. A posição de Protágoras e a de Hípias representam duas correntes que ainda se digladiam na arena educativa. Protágoras surge aqui como o representante de um currículo difuso centrado no aluno, de um currículo que não quer assoberbar os jovens com coisas de que eles não gostam (matemática, física, música). Preocupa-se apenas com a cidadania em geral. De certa forma, é o antepassado longínquo do eduquês e de pessoas tão ilustres como Valter Lemos e a generalidade dos ministros da educação portugueses do pós-25 de Abril, para além de alguns professores com pouca vocação para o saber.
A posição oposta, dentro da sofística, defende que os jovens devem fazer a sua formação passando pelo saber disciplinar, proveniente da tradição pitagórica (matemáticas, música, astronomia) e por disciplinas da área da língua e da oratória. De certa forma, são os antecessores daqueles que defendem a importância de uma educação disciplinar e formal, os quais foram determinantes no ensino ocidental até ao século XX. São estes professores que o actual governo quer eliminar da escola pública portuguesa.
Não há nada de novo sob o Sol. A discussão é velha e irresolúvel. Neste momento, ganham, em Portugal, os filhos de Protágoras.
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