Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt - Doze
Doze
Era ainda um tempo de vagas quimeras
e as casas demoravam-se na paisagem
como os gatos adormecem ao sol nas tardes
inquietas do verão. Ao longe, ouvia-se
o latir da guerra, mas naquelas águas
apenas se surpreende o lento passar das estações.
Quando a terra se esfarela
e os homens correm como loucos pelo mundo,
há ainda na inclemente paisagem
lugares salvos pelo abandono.
Esquecidas aquelas casas abrigam então
os últimos deuses e se o ar marcial
não as toca é porque estão sob o império
da ilusão, a esperança sempre a convoca.
O barqueiro aparelhou o barco
e vogou para a outra margem. De lá,
olha casa a casa e no súbito revérbero
inventa um mundo de água e pedra,
prados verdes e cálices de vinho
a correr à sombra da tarde
nas gargantas doridas
pelo musgo crespo da guerra.
Jorge Carreira Maia, Sobre pintura e desenho de Gustav Klimt, 2008
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