O ministro, a funcionária e o país que temos
Compungido, o Ministro das Finanças parece ter dado ordem para que a funcionária de uma junta de freguesia de Ponte de Lima (ver post anterior) continue de baixa médica até reapreciação do seu caso. A senhora mal se pode mexer, mas a Caixa Geral de Aposentações, que depende do governo, mandou-a trabalhar, pois os tempos não estão para quem não se mexe. Depois do escândalo, vem o Ministro apagar o fogo.
Ora, pondo de lado o cinismo inerente ao interesse político, o que senhor Ministro mostrou foi que, com a sua compunção pessoal, é uma pessoa moralmente bem formada, talvez mesmo um católico, sabe-se lá, que leva os preceitos a sério. O problema é que a compunção faz parte dos jogos de linguagem da religião e da moral, mas não da política. Em política, o essencial é traçar regras universais sensatas que possam conduzir a comunidade. Aquilo que se passa é que a Caixa Geral de Aposentações não tem manifestado uma especial sensatez. Ou as regras a aplicar são insensatas ou as regras são boas, mas os aplicadores são insensatos. Em qualquer dos casos a responsabilidade é do governo.
Este caso, pelo paternalismo que comporta, é mais um sintoma da deriva autoritária da actual governação. É nos regimes autoritários que os políticos se arrogam um poder paternal e de excepção, que, em certos casos gritantes, exercem como se executassem um acto de compaixão. Mas a compunção e a compaixão do senhor ministro escondem, mascaram, a atitude política que é a do governo. A funcionária ficará, por certo aliviada e agradecida, o governo lá evitou uma nova trapalhada, trapalhada de que ele próprio é responsável, o ministro teve oportunidade para exibir os seus dotes morais. Parece que está tudo contente. É o país que temos.
Ora, pondo de lado o cinismo inerente ao interesse político, o que senhor Ministro mostrou foi que, com a sua compunção pessoal, é uma pessoa moralmente bem formada, talvez mesmo um católico, sabe-se lá, que leva os preceitos a sério. O problema é que a compunção faz parte dos jogos de linguagem da religião e da moral, mas não da política. Em política, o essencial é traçar regras universais sensatas que possam conduzir a comunidade. Aquilo que se passa é que a Caixa Geral de Aposentações não tem manifestado uma especial sensatez. Ou as regras a aplicar são insensatas ou as regras são boas, mas os aplicadores são insensatos. Em qualquer dos casos a responsabilidade é do governo.
Este caso, pelo paternalismo que comporta, é mais um sintoma da deriva autoritária da actual governação. É nos regimes autoritários que os políticos se arrogam um poder paternal e de excepção, que, em certos casos gritantes, exercem como se executassem um acto de compaixão. Mas a compunção e a compaixão do senhor ministro escondem, mascaram, a atitude política que é a do governo. A funcionária ficará, por certo aliviada e agradecida, o governo lá evitou uma nova trapalhada, trapalhada de que ele próprio é responsável, o ministro teve oportunidade para exibir os seus dotes morais. Parece que está tudo contente. É o país que temos.
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