Falácias educacionais – 3. A interdisciplinaridade
Uma moda que persiste na retórica sobre a vida escolar é a da interdisciplinaridade, travestida, agora, sob nomes tais como transdisciplinaridade ou multidisciplinaridade. A interdisciplinaridade nasce da necessidade de explicar fenómenos complexos pelo recurso a diversas áreas de saber. Sendo assim, a interdisciplinaridade é um recurso na produção de conhecimento, de um conhecimento que exige elevadíssimos recursos cognitivos e epistemológicos.
Ora é esta ideia que foi transposta para o ensino não superior, básico e secundário, e que se tornou não apenas o suporte de disciplinas e áreas disciplinares absolutamente irrelevantes, como a área escola, a área de projecto, o estudo acompanhado, como se pretende apresentar, a dita interdisciplinaridade, como um substituto das áreas disciplinares dos currículos em causa.
Esta moda que, para o mal dos alunos e do ensino em Portugal, está longe de ser passageira, assenta em ideias que nunca são clarificadas, mas que se as pensarmos e as esclarecermos percebemos de imediato que são um logro.
Em primeiro lugar, não são transferíveis as práticas existentes entre aqueles que, sendo especialistas em determinadas áreas, têm necessidade de ouvir outros pontos de vista sobre assuntos concomitantes, para crianças e jovens destituídos de conhecimento científico e que estão no momento de adquirir as bases do seu desenvolvimento cognitivo. Para que a interdisciplinaridade funcione, é necessário que os intervenientes nessa prática possuam saberes disciplinares sólidos. O que não é manifestamente o caso dos alunos do ensino básico e do ensino secundário. Os resultados destas práticas interdisciplinares conduzem os alunos a situações pouco edificantes. Substitui-se o sólido saber disciplinar a adquirir por uma manta de retalhos, cheia de lugares comuns, banalidades, opiniões, conversas de café. A interdisciplinaridade que se quer para o ensino não superior não passa do reino do “parece-me que…”. Perder tempo com estas práticas é roubá-lo àquilo que é, de facto, fundamental.
Em segundo lugar, há uma crença ingénua, proveniente de uma opinião escolar, mas não só, pouco esclarecida, que propaga a infeliz ideia de que a interdisciplinaridade ajuda o aluno a estabelecer relações, a fazer associações e ligações entre assuntos de diversa índole, tornando-se assim mais inteligente e mais capaz de perceber o mundo complexo em que vive. Mais uma vez há uma confusão entre a realidade dos adultos e o mundo da formação para entender essa realidade. Note-se que os alunos só podem fazer ligações, relações, associações, comparações, etc., se tiverem alguma coisa dentro deles para ligar, relacionar, associar, comparar, etc. As práticas interdisciplinares que se pretendem no ensino não superior só podem falhar porque os alunos não adquiriram os conhecimentos necessários para as realizar, nem é suposto que os adquiram de forma a transformar o trabalho interdisciplinar na essência da vida escolar, como pretende a retórica educativa actual.
Em terceiro lugar, a defesa da interdisciplinaridade nas escolas assenta numa reflexão pouco cuidada sobre o grau de maturidade dos alunos. Não é muito grave que alunos do básico e do secundário não tenham perspectivas globalizantes do saber. Irão com a maturação cognitiva adquiri-las. O grave é os alunos não possuírem os fundamentos das várias disciplinas (língua materna, história, biologia, física, matemática, química, filosofia, etc.). Estas disciplinas fornecem um conjunto de experiências diversificadas, devido aos seus objectos e aos seus métodos diferenciados. O aluno do ensino não superior é, ou deveria ser, sujeito a uma aprendizagem muito interessante da diversidade do mundo através da diversidade dos saberes. Esta experiência é fulcral para o desenvolvimento cognitivo e afectivo (seja lá isso o que for) dos alunos. Sem esta experiência profunda da diferença de saberes, o aluno não conseguirá, no futuro, perceber as áreas de comunicação entre eles. A interdisciplinaridade na escola básica e secundária é o caminho para impedir que o aluno desenvolva as suas potencialidades cognitivas, pelo aprofundamento de saberes específicos. Antes de aprender a estabelecer ligações e relações entre saberes diversos, é preciso que o aluno o aprenda a fazer dentro de cada uma das disciplinas, que retire delas as experiências cognitivas que elas lhes proporcionam. Substituir isso pela interdisciplinaridade é perder tempo e dinheiro, e é, fundamentalmente, uma prática criminosa contra os nossos alunos.
É muito fácil, para quem está no Ministério da Educação, como burocrata, secretário de estado ou ministro, decretar práticas interdisciplinares. É só escrever no papel. As consequências disso ninguém as pensa e se há culpados, não são esses senhores, mas os professores, claro.
Ora é esta ideia que foi transposta para o ensino não superior, básico e secundário, e que se tornou não apenas o suporte de disciplinas e áreas disciplinares absolutamente irrelevantes, como a área escola, a área de projecto, o estudo acompanhado, como se pretende apresentar, a dita interdisciplinaridade, como um substituto das áreas disciplinares dos currículos em causa.
Esta moda que, para o mal dos alunos e do ensino em Portugal, está longe de ser passageira, assenta em ideias que nunca são clarificadas, mas que se as pensarmos e as esclarecermos percebemos de imediato que são um logro.
Em primeiro lugar, não são transferíveis as práticas existentes entre aqueles que, sendo especialistas em determinadas áreas, têm necessidade de ouvir outros pontos de vista sobre assuntos concomitantes, para crianças e jovens destituídos de conhecimento científico e que estão no momento de adquirir as bases do seu desenvolvimento cognitivo. Para que a interdisciplinaridade funcione, é necessário que os intervenientes nessa prática possuam saberes disciplinares sólidos. O que não é manifestamente o caso dos alunos do ensino básico e do ensino secundário. Os resultados destas práticas interdisciplinares conduzem os alunos a situações pouco edificantes. Substitui-se o sólido saber disciplinar a adquirir por uma manta de retalhos, cheia de lugares comuns, banalidades, opiniões, conversas de café. A interdisciplinaridade que se quer para o ensino não superior não passa do reino do “parece-me que…”. Perder tempo com estas práticas é roubá-lo àquilo que é, de facto, fundamental.
Em segundo lugar, há uma crença ingénua, proveniente de uma opinião escolar, mas não só, pouco esclarecida, que propaga a infeliz ideia de que a interdisciplinaridade ajuda o aluno a estabelecer relações, a fazer associações e ligações entre assuntos de diversa índole, tornando-se assim mais inteligente e mais capaz de perceber o mundo complexo em que vive. Mais uma vez há uma confusão entre a realidade dos adultos e o mundo da formação para entender essa realidade. Note-se que os alunos só podem fazer ligações, relações, associações, comparações, etc., se tiverem alguma coisa dentro deles para ligar, relacionar, associar, comparar, etc. As práticas interdisciplinares que se pretendem no ensino não superior só podem falhar porque os alunos não adquiriram os conhecimentos necessários para as realizar, nem é suposto que os adquiram de forma a transformar o trabalho interdisciplinar na essência da vida escolar, como pretende a retórica educativa actual.
Em terceiro lugar, a defesa da interdisciplinaridade nas escolas assenta numa reflexão pouco cuidada sobre o grau de maturidade dos alunos. Não é muito grave que alunos do básico e do secundário não tenham perspectivas globalizantes do saber. Irão com a maturação cognitiva adquiri-las. O grave é os alunos não possuírem os fundamentos das várias disciplinas (língua materna, história, biologia, física, matemática, química, filosofia, etc.). Estas disciplinas fornecem um conjunto de experiências diversificadas, devido aos seus objectos e aos seus métodos diferenciados. O aluno do ensino não superior é, ou deveria ser, sujeito a uma aprendizagem muito interessante da diversidade do mundo através da diversidade dos saberes. Esta experiência é fulcral para o desenvolvimento cognitivo e afectivo (seja lá isso o que for) dos alunos. Sem esta experiência profunda da diferença de saberes, o aluno não conseguirá, no futuro, perceber as áreas de comunicação entre eles. A interdisciplinaridade na escola básica e secundária é o caminho para impedir que o aluno desenvolva as suas potencialidades cognitivas, pelo aprofundamento de saberes específicos. Antes de aprender a estabelecer ligações e relações entre saberes diversos, é preciso que o aluno o aprenda a fazer dentro de cada uma das disciplinas, que retire delas as experiências cognitivas que elas lhes proporcionam. Substituir isso pela interdisciplinaridade é perder tempo e dinheiro, e é, fundamentalmente, uma prática criminosa contra os nossos alunos.
É muito fácil, para quem está no Ministério da Educação, como burocrata, secretário de estado ou ministro, decretar práticas interdisciplinares. É só escrever no papel. As consequências disso ninguém as pensa e se há culpados, não são esses senhores, mas os professores, claro.
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