A Cidade Flutuante - 12. Uma espiral de cinza e fumo ergue-se
Uma espiral de cinza e fumo ergue-se,
ergue-se entre jardins de erva rala,
seixos rolados pelo rio
e pedras brancas,
da serra as trouxeram.
Se oiço gritos,
sento-me e vejo os carros a passar
e conto as pessoas uma a uma,
sem lhes olhar as faces
nem pressentir os dedos.
Deixo-as ir perdidas, cansadas,
envoltas num manto de cristal,
a cantar ladainhas,
a esconder segredos.
Depois levanto-me
e corro pelos jardins ardidos
e de olhos especados
deixo que as lágrimas venham
e sejam um rio,
um rio suave vindo da memória,
um rio sem foz
nem nascente,
nem leito,
nem margens,
nem história.
[JCM. A Cidade Flutuante, 1993/2007]
1 comentário:
Acho que foi uma fase interessante.
Passando-as em revista, vê-se que há um contínuo amadurecimento.
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