26/02/10

Um espectáculo extraordinário

Esta suspeição sobre a Procuradoria-Geral e as afirmações de José António Saraiva no parlamento são mais um sintoma de profunda degradação que atingiu a Justiça em Portugal. À nossa frente desenrola-se o mais extraordinário dos espectáculos, pior que um tornado ou um tsunami, um espectáculo que ameaça não deixar pedra sobre pedra. Mas o mais preocupante deste espectáculo é que ele deixa os espectadores impávidos e serenos, como se a desagregação das instituições (seja pela perversão efectiva da sua acção, seja pela calúnia de alguém demente) não afectasse minimamente a maldita vidinha que nos cabe viver.

Quando no final do século passado, o filósofo francês Paul Ricoeur definiu o fundamental da vida ética fê-lo numa frase lapidar: uma vida boa com e para os outros em instituições justas. Isto significa que faz parte de uma vida boa a nossa existência dentro de instituições, e para que a vida não seja um mero estar vivo mas uma vida segundo o bem é necessário que as instituições sejam justas. O que é preocupante no caso da Justiça portuguesa já nem sequer é a questão de saber se ela é uma instituição justa. Ninguém dá um tostão pelo carácter justo da nossa Justiça. O que os cidadãos começam a perguntar é se ainda existe uma instituição de Justiça em Portugal.

Sem comentários: