O espírito de união nacional
Chegou a altura de fazer a pergunta da qual se foge como o diabo da cruz: os últimos acontecimentos na Madeira têm ou não um carácter político? Aquilo que aconteceu foi apenas devido a uma inesperada violência da natureza ou esta encontrou aliados na forma como o homem organizou e dispôs a sua vida no território?
Agora, em torno do desastre da Madeira, todos brincam à União Nacional. Jardim, em primeiro lugar, mas também o governo e o Presidente. Em tudo isto, porém, há uma falsificação deliberada da realidade. O que se passou na Madeira é um assunto eminentemente político e como tal é um assunto conflitual. Por exemplo, o Expresso chama atenção para um programa da RTP2 que avisava, há mais de dois anos, para aquilo que poderia vir a acontecer (e que infelizmente aconteceu mesmo). Mas já antes disso, cientistas da Universidade de Aveiro (UA) alertavam para o perigo e mostravam as causas (muitas deles devido à intervenção humana) que poderiam conduzir a uma desgraça. Segundo o jornal, parece que esses cientistas foram apelidados pelos governantes madeirenses de "cientistas loucos".
A ser verdade esta história, é claro que há responsabilidade política nos acontecimentos da Madeira. O facto de discutir essa responsabilidade e de conflituar em torno dela não é prejudicial à solidariedade com o povo madeirense. Seria até, contrariamente ao que gostamos de pensar, prova de maturidade cívica e democrática. Mais, seria uma forma de tomada de consciência daquilo que poderá ocorrer em muitos outros lugares devido às mesmas causas apontadas, pelos especialista da UA, para a Madeira. Pensar que a discussão não é feita por reverência aos mortos e respeito aos desalojados é ingenuidade pura. Ela não é feita por medo de Jardim. É desse medo que nasce, neste caso, o nefasto espírito de união nacional.
1 comentário:
o espíritozinho da unidade nacional faz lembrar isto:
http://www.youtube.com/watch?v=X08-__NH5qk
Enviar um comentário