27/02/10

A canonização de uma insubmissa


A canonização desta mulher, Mary MacKillop, levanta dois problemas. O primeiro diz respeito à relação de pessoas excepcionais com a hierarquia da Igreja Católica, hierarquia essa composta por gente normal, a maior parte das vezes com uma visão do mundo, da vida, da moral e da religião puramente convencional. Certos religiosos de ordens contemplativas ou de ordens activas, como é o caso de Mary MacKillop, têm um comportamento que ultrapassa em muito a capacidade de compreensão daqueles que possuem o poder na Igreja, numa Igreja que foi criada para a excepção da santidade, mas que, como em todas as coisas humanas, prefere a rotina da convencionalidade. Daí nasce a incompreensão e desta à perseguição vai um passo. Mary MacKillop chegou a ser excomungada. Não deverá ser o primeiro caso em que um excomungado é reconhecido depois como santo.

O segundo ponto é o da necessidade dos milagres para declarar alguém digno da glória dos altares. Mas a santidade, isto é, a excepcionalidade da experiência religiosa de uma pessoa, não se deveria medir pela capacidade taumatúrgica, mas pela vida que viveu, pelos milagres que operou não contra as leis da natureza, mas aqueles que resultaram de uma acção verdadeiramente livre que conseguiu, em certo momento, flectir o curso habitual do mundo e abrir caminhos que os outros puderam trilhar. A santidade é uma luta contra a inelutabilidade do destino, uma afirmação da liberdade contra o peso da necessidade.

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