05/02/10

Acordo semântico


Cada vez que, por um sortilégio do destino (aqui, ou aqui, ou aqui), os portugueses têm acesso ao conteúdo das coisas que a justiça acha que não têm importância, seja na política ou no futebol, ficam com a sensação de que a língua portuguesa é um estranho caso de dupla personalidade lexical. Todos usam as mesmas palavras, mas para uns elas signifcam uma coisa, para outros significam radicalmente o oposto. Onde uns vêem crimes, outros apenas boas acções. Considerando que não estamos apenas perante uma mera ambiguidade natural da língua, mas diante de um radical conflito semântico, proponho que, antes de fazer entrar em vigor o acordo ortográfico com o Brasil, cheguemos, entre nós portugueses, a um acordo sobre o significado das palavras que usamos, um acordo semântico.

4 comentários:

Anónimo disse...

Para quem desejar reflectir sobre este tema, sugiro a leitura de "Language of the Third Reich", London: Continuum, 2002 (traduzido do alemão "NTI Notizbuch eines Philologen", de Victor Klemperer. Não confundir este Klempener com o primo dele, Otto, o músico famoso. O que aprendi neste livro levou-me a interpretar melhor os "media" portugueses e os discursos da tropa fandanga que está a enterrar o país.
Victor Pereira da Rosa

P.S. - NTI = "Lingua Tertii Imperii"

Jorge Carreira Maia disse...

Obrigado, Victor, pela sugestão.

Abraço,

jcmaia

joao alfaro disse...

A semântica, a vida e a nossa justiça estão nos antípodas...

Jorge Carreira Maia disse...

Parece que sim. Pelo menos há um conflito entre a semântica e a vida pública portuguesa.